Dica de livro #contos Herman Hesse







Dica de livro #osinal thomas de wesselow



Descrição do livro
Há 2 mil anos a morte de um homem levou ao nascimento de uma nova religião. Desde então, bilhões de pessoas no mundo todo viveram e morreram em seu nome. Mas as maiores mentes ao longo dos séculos não conseguiram explicar uma simples questão: o que aconteceu para fazer com que as pessoas acreditassem nele? A resposta está neste livro esclarecedor, que reconsidera o papel da mais importante relíquia cristã, o Santo Sudário. Depois de anos consultando fontes históricas, desvendando as evidências científicas e analisando os Evangelhos, o historiador da arte Thomas de Wesselow chega a uma conclusão reveladora – após nos conduzir por um passeio fascinante pela história da religião e narrar passo a passo os eventos que culminaram no fatídico Domingo de Páscoa.


    Babel - Portal dos Deuses

    Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.


    A Babilônia é conhecida por muitos através das narrativas bíblicas, principalmente a de Gênesis 11.1-9, a conhecida "Torre de Babel". O nome da cidade no texto bíblico em nada tem haver com o verdadeiro nome da antiga cidade, a expressão "Migdal Babel" מגדל בבל, é de execração, visto partir da palavra hebraica "Lebalbel" לבלבל (confusão).

    Embora o texto busque recuar aos arcontes da história da humanidade no Antigo Oriente, sua composição está ligada a experiência da Golá judaica em 587 a.C (Exílio babilônico). Foi na experiência do exílio que a elite judaica se deparou com aquilo que deu origem a narrativa da "Torre de Babel", ou seja, com a grande torre de 91 metros de altura, o Entemenanki do deus babilônico Marduk, que fazia parte das composições de arquitetura sacra junto com o Ezagila (outro templo de Marduk). 

    O texto da Torre de Babel, é um embate teológico de execração, e não exatamente uma proposição histórica, pois dentre as torres de andares chamadas de Zigurates, entre as mais antigas, a de Babel era a mais recente, cuja reformulação colossal só se deu no período de dominação amorrita, um pouco antes de Hamurabi no século XVIII a. C. O nome verdadeiro da cidade não era Babel, mas sim Bab' ilû, que significa "Porta de Deus" ou Portal dos Deuses", visto que a palavra "ILû" (Deus) possui um uso semelhante a palavra hebraica Elohim אלהים, ou seja, pode representar um plural como também um singular, embora ILû pareça ser, na realidade, um singular coletivo. A Babilônia foi, sem sombra de dúvidas, uma das maravilhas do Antigo Oriente Próximo.

    A face da missão

    Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.


    As tradições, construções teológicas do clero, daquela elite ambiciosa, triunfalista e nefasta, não dialogavam com ele. Todas as leituras messiânicas haviam sido produzidas a luz do triunfalismo, na expectativa de um Messias, que como rei que deveria ser, abalaria todas as estruturas da dominação estrangeira. Dominação esta, que com ela, eles mesmos flertavam as ocultas. 

    Mas aqueles religiosos de plantão, aqueles que liam e expunham interpretações regadas às suas próprias ambições, viram nele um empecilho, um insuportável antagonista de suas ambições e paixões megalomaníacas de reino. Para eles, ele não poderia ser o Messias, pois não tinha a cara, o jeito, a procedência e as propostas tão esperadas em um rei. Não! Aquele moço, daquela Nazaré paupérrima, não negociava, não sedia, não ambicionava Yeshua ישוע foi a antítese das loucuras lúgubres de um falso clero, cujos exercícios aconteciam alinhados às vantagens e lucros, que punham os mais fracos na fome, na miséria, em estigmatização de angústias profundas. 

    Era um jogo funesto de cartas marcadas, que visava a manutenção de um grupo restrito rapineiro, de necrófilos gulosos, afoitos pela pompa e a apoteose do luxo. Jesus audaciosamente se punha a dizer: "aos pobres é anunciado o Reino Deus". Visto que a lógica de um reino (ainda mais o de Deus) não poderia começar por baixo, sem massagear o ego dos de cima, daqueles que conotativamente e denotativamente encontravam-se alojados na montanha (Sião), então deram-lhe um golpe aparentemente fatal, a mais humilhante e execrável execução, afim de definitivamente silenciar-lhe, pendurando-ô nu em uma cruz, como um insurreto. Contudo, até hoje, a sua voz de amor e por amor, ainda reverbera no Cosmo: "amai-vos!"
    "A voz de Jesus é a voz dos aflitos!"

    Tehôm - Abismo

    Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.


    "O Caos em Gênesis 1 e a Mitologia dos Povos no Antigo Oriente Próximo" "Tehôm" תהום, na Bíblia portuguêsa se encontra traduzido por "Abismo", que não permite captuar o contexto imediato dessa palavra. Faz-se necessário mergulhar na língua hebraica, como também, em todo a cultura do Antigo Oriente Próximo, afim de apreender o arcabouço cultural dessa narrativa. 


    O texto diz: "Bereshit bará Elohim et hashamayim weet haáretz, wehaáretz hayitá tohû wavohû. Wechôshech al pney "tehôm" werûach Elohim merachêfet al pney hamaim. בראשית ברא אלוהים את השמים ואת הארץ, והארץ היתה תהו ובוהו וחושך על פני תהום. Embora haja rejeição de que o texto esteja relacionado com a cultura ampla antigo-oriental, percebe-se a dependência no sema dos termos, como por exemplo, as palavras Tohû תהו e Bohû בהו, que outrora referiam-se as deusas que chocaram o "ovo primordial" que deu origem ao cosmos (o ovo representava o estado informe do cosmos). 

    Assim também, é possível encontrar por trás da palavra "Tehôm", uma relação com o "Caos Primordial", crido e atestado pelos escritos do Antigo Oriente Próximo: os dos Sumérios e os povos que os sucederam na Mesopotâmia, os dos Egípcios e dos Cananeus. Fato curioso é que, entre os povos do Antigo Oriente, o "Caos", que era um elemento aquoso de um estado omorfo do cosmos, era personificado por um animal teriomórfico-ofídico (um dragão) mantenedor do status quo caótico. 

    Nos textos sumérios ele era chamado de "Kur", com quem o deus Enki travou uma batalha, nos textos cananeus de Ugárit, ele se chamava Yam Nahar ou Lotan (uma serpente de 7 cabeças) vencido em uma batalha pelo deus Baal Haddad, e no texto babilônico-cosmogônico chamado Enuma-Elish, o dragão que personificava o caos chamava-se "Tihamat", que foi vencida pelo deus Marduk. 

    É fato curioso que, as consoantes que constituem a raiz tanto de Tehôm quanto de Tihamat sejam as mesmas (THM), sendo que a finalização com "T" em Tihamat, perece ser desinência feminina. A única diferença é, que em Gênesis os termos se encontram demitificados, contudo, na cosmogonia do Sl 74. 13-17, não; nele Yahweh luta contra o dragão Raab ou Leviatã. Indícios de uma cosmogonia mais primitiva?

    Eva - Chawá

    Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.



    Gênesis 2. 21-22, nos dá conta da criação de Eva, como procedente da costela de Adão. A palavra hebraica que foi traduzida por "costela" é Tselá צלע, que seria talvez, mais bem traduzida por flanco, lado. Seria essa operação divina um desmembramento de algo que já se encontrava em Adão? É difícil de saber, mas não deixa de ser uma ideia rica. 




    A palavra Tselá, sendo interpretada como "lado", desbanca a inferiorização do feminino, e impossibilita as leituras capciosas machistas, como também, o fato de o texto dizer que, a motivação divina para tal realização, foi a solidão de Adão (não é bom que o homem esteja só).

     Embora não hajam pormenores sobre um Adão angustiado, na expressão "não é bom que o homem esteja só", contudo, implicitamente, parece sim propor algo nesse sentido; visto que, o que não é bom, faz mal. Se torna impossível não estabelecer, em certas medidas, uma relação entre Gênesis e as ideias oriundas da cultura do Antigo Oriente, como por exemplo, a narrativa do "Dilmum", o Éden da literatura suméria. Nele, há conteúdos análogos, que parecem ser o arcabouço indireto para a concepção futura do Gênesis.


    Embora Israel não tenha coexistido nos tempos sumérios, sabe-se que, sem dúvidas, é devedor da cultura e pensamentos do mundo cananeu, o qual foi fortemente influenciado pela produção cultural sumério-mesopotâmico. Na narrativa do Dilmum, o deus sumério Enki após desejar as delícias das árvores frutíferas do paraíso e prová-las, foi acometido por doenças terríveis ao ser amaldiçoado pela deusa mãe "Ninhursag", e dentre as dores sofridas, uma acometia sua "costela". 

    Depois de convencida pelos deuses, Ninhursag salva Enki da dor, criando Nin-ti como método curativo. A palavra "Nin" significa "senhora ou dama", e "Ti" possuí duplo sentido, significando tanto "costela" quanto "vida" (senhora da costela/ senhora da vida), semelhante a Eva חוה, que significa "a que vive" ou genitora de vida". Eva, além de sublinhar o valor do feminino, consequentemente afirma a importância das relações inter-humanas, pois nem todos os prazeres de um paraíso rico e abundante podem saciar a necessidade que temos de existir em outros. A auteridade produz real sentido na vida.

    Enuma - Elish

    Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.



    A compreensão histórica sobre os povos do Crescente Fértil, alterou-se a partir do século XIX EC. Pouco se sabia sobre os povos que ocuparam a Mesopotâmia, sua cultura abrangente e as vicissitudes históricas que os envolveram, até que no século XIX, os expedicionários ao buscarem informações sobre o Império Assírio, se depararam com algo muito mais amplo e rico. 

    A Biblioteca de Nínive, também conhecida como Biblioteca de Assurbanípal, é uma coleção de milhares de placas em argila contendo textos em escrita cuneiforme sobre vários assuntos, a partir do 7º século a. C. Dentro desse acervo está a famosa Epopeia de Gilgamesh.


    Foi a descoberta da Biblioteca de Assurbanipal na região que havia sido a antiga capital assíria Ninive, que trouxe a tona um amplo acervo literário em escrita cuneiforme, que não apenas permitia conhecer os assírios, mas toda a cultura desde os arcontes, mergulhando em um passado de mais de 5000 anos, ou seja, no mundo dos antigos Sumérios. 

    O crescente fértil, o berço da civilização, início da agricultura e sociedades complexas.


    A partir daí, percebeu-se o quanto que os povos do Crescente Fértil são devedores da cultura, das ideias religiosas, da invenção da escrita, e de muitas outras coisas que foram produzidas nesse canto do mundo. Sim, os cananeus, Israel e outros povos do Mediterrâneo, são, por assim dizer, filhos dessa cultura, direta ou indiretamente. 


    O Enuma-Elish, é um texto cosmogônico babilônico, produzido no primeiro império, no período amorrita do século XVIII a.C, e elaborado com a finalidade de elevar a importância e categoria divina do deus Marduk, o qual até então, não passava de um mediador divino, um filho do deus Enki. Tanto Marduk quanto Babel (Babilônia), até o período dos amorritas, não eram relevantes, e Babel, na verdade era uma pequena cidade chamada Tintira. 


    Foi a partir do domínio amorrita na Mesopotâmia, que Tintira passou a configurar como a grande Babilônia, e recebeu a áurea de santidade inexpugnável, principalmente no reinado de Hamurabi. O Enuma-Elish, possui a tríplice função:1) marcar o elevo do deus Marduk;2) da cidade Babilônia; 3) a fundação do santuário, o Ezagila e a torre Entemenanki. Toda cosmogonia (narrativa da criação) entre os povos do Antigo Oriente Próximo, possuía essa triplice função; de operar a transição de um prestígio divino, de fundar a cidade ligada a esse deus, e de sublinhar a importância da existência do seu santuário. Pois, foi após vencer o caos, ou seja, o seu animal atributo Tihamat, que Marduk criou o mundo.

    Voz que clama no deserto?


    Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.




    (Isaías 40.3-5) Hebraico-transliteração: "kôl korê bamidbar panû dêrekh Adonay, yashrû baaravá messilá Leloheynu". A compreensão desse texto e uma tradução exata, exige conhecimento do hebraico, de suas pontuações vocálicas e de cantilação, e também, do contexto histórico que o envolve. 

    Sabe-se, entre os acadêmicos, que o livro de Isaías constitúi-se uma costura de três autores diferentes: 1)o Proto-Isaias (o profeta Isaías do século VIII a.C), que vai do capítulo 1 ao 39; 2) o Deutero-Isaias (provavelmente um grupo profético do exílio babilônico), que vai do capítulo 40 ao 55; e o Trito-Isaias, que vai do capítulo 56 ao 66. Isaías 40, pertence, provavelmente, ao período final do exílio babilônico 538 a.C., em que o rei Ciro da Pérsia declara o retorno dos povos deportados às suas respectivas terras.

     A linguagem do Deutero-Isaias, está envolta na ideia do "Caminho do Rei", uma prática persa de endireitar estradas para facilitar as transações e a administração do império. Isaias utiliza-se dessa realidade para proclamar o momento do retorno á Judá, e diz que, "uma voz está clamando!"; voz que estimula o preparar/ endireitar o caminho/ vereda no deserto que separava a Babilônia de Judá. 

    Além do mais, os sinais de cantilação da massorá, a forma poética do texto em paralelismo sinonímico, não permitem que "kôl korê bamidbar" sejam palavras lidas em uma relação conjunta, como: "voz do que clama no deserto". A relação dos paralelismos é nítida: bamidbar (no deserto) faz paralelismo com baaravá (no ermo); panû (preparai) faz paralelismo com yashrû ( endireitai); dêrekh (caminho), faz paralelismo com messilá (vereda), e o tetragrama יהוה (nome de Deus/ lido como Adonay) faz paralelismo com Leloheynu ( para o nosso Deus).

     Percebe-se que, "kôl korê" (uma voz clama) não pertence ao jogo poético de paralelismos. A tradução então, seria " Uma voz clama: no deserto preparai o caminho de Adonay, endireitai no ermo vereda para o nosso Deus". Essa tradução, é fortalecida pelo texto do Isaías de Qumran, que não possuí a introdução "kôl Korê" (uma voz clama), pois apenas inicia-se com "bamidbar" (no deserto). "Voz do que clama no deserto", é tradução da LXX e da Peshita aramaica.