Pular para o conteúdo principal

Tehôm - Abismo

Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.


"O Caos em Gênesis 1 e a Mitologia dos Povos no Antigo Oriente Próximo" "Tehôm" תהום, na Bíblia portuguêsa se encontra traduzido por "Abismo", que não permite captuar o contexto imediato dessa palavra. Faz-se necessário mergulhar na língua hebraica, como também, em todo a cultura do Antigo Oriente Próximo, afim de apreender o arcabouço cultural dessa narrativa. 


O texto diz: "Bereshit bará Elohim et hashamayim weet haáretz, wehaáretz hayitá tohû wavohû. Wechôshech al pney "tehôm" werûach Elohim merachêfet al pney hamaim. בראשית ברא אלוהים את השמים ואת הארץ, והארץ היתה תהו ובוהו וחושך על פני תהום. Embora haja rejeição de que o texto esteja relacionado com a cultura ampla antigo-oriental, percebe-se a dependência no sema dos termos, como por exemplo, as palavras Tohû תהו e Bohû בהו, que outrora referiam-se as deusas que chocaram o "ovo primordial" que deu origem ao cosmos (o ovo representava o estado informe do cosmos). 

Assim também, é possível encontrar por trás da palavra "Tehôm", uma relação com o "Caos Primordial", crido e atestado pelos escritos do Antigo Oriente Próximo: os dos Sumérios e os povos que os sucederam na Mesopotâmia, os dos Egípcios e dos Cananeus. Fato curioso é que, entre os povos do Antigo Oriente, o "Caos", que era um elemento aquoso de um estado omorfo do cosmos, era personificado por um animal teriomórfico-ofídico (um dragão) mantenedor do status quo caótico. 

Nos textos sumérios ele era chamado de "Kur", com quem o deus Enki travou uma batalha, nos textos cananeus de Ugárit, ele se chamava Yam Nahar ou Lotan (uma serpente de 7 cabeças) vencido em uma batalha pelo deus Baal Haddad, e no texto babilônico-cosmogônico chamado Enuma-Elish, o dragão que personificava o caos chamava-se "Tihamat", que foi vencida pelo deus Marduk. 

É fato curioso que, as consoantes que constituem a raiz tanto de Tehôm quanto de Tihamat sejam as mesmas (THM), sendo que a finalização com "T" em Tihamat, perece ser desinência feminina. A única diferença é, que em Gênesis os termos se encontram demitificados, contudo, na cosmogonia do Sl 74. 13-17, não; nele Yahweh luta contra o dragão Raab ou Leviatã. Indícios de uma cosmogonia mais primitiva?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Elias - Um paradigma do Ministério que prepara o caminho para a volta de Cristo.

Luiz Fontes: Introdução Quando estudamos esse personagem místico analisando a realidade contextual que cercava sua vida espiritual, percebemos que somos completamente limitados, pois não temos materiais suficientes que nos ajude a compreender melhor toda realidade da vida de Elias. Somos apresentados a ele primeiramente como Elias, o tesbita (Rs 17: I). Tisbé era uma cidade da região de Gileade, no Oriente Médio antigo. Os estudiosos da Bíblia não hesitam em enfatizar a obscuridade das raízes de Elias. Precisamos entender que o termo tesbita se refere a um nativo de certa cidade de nome Tisbé, ou algo similar. A localização da cidade é desconhecida". Segundo o irmão Charles Swindoll em seu livro Elias um homem de coragem disse que “a cidade de Tisbé é um daqueles lugares que a areia do tempo escondeu completamente”. Embora, não temos muitas informações sobre a vida deste amado servo de DEUS, somos apresentados a ele numa situação de profunda crise espiritual do povo de DEU...

De Alexandria a Roma – José Arthur Giannotti

Estoicos, céticos e neoplatônicos levam suas investigações até Roma. Mas feita essa passagem, só poderemos indicar como Agostinho de Hipona será o grande elo entre o pensamento grego e o cristianismo. De que modo o Uno original poderá ser três (Pai, Filho e Espírito Santo)?