Eva - Chawá

Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.



Gênesis 2. 21-22, nos dá conta da criação de Eva, como procedente da costela de Adão. A palavra hebraica que foi traduzida por "costela" é Tselá צלע, que seria talvez, mais bem traduzida por flanco, lado. Seria essa operação divina um desmembramento de algo que já se encontrava em Adão? É difícil de saber, mas não deixa de ser uma ideia rica. 




A palavra Tselá, sendo interpretada como "lado", desbanca a inferiorização do feminino, e impossibilita as leituras capciosas machistas, como também, o fato de o texto dizer que, a motivação divina para tal realização, foi a solidão de Adão (não é bom que o homem esteja só).

 Embora não hajam pormenores sobre um Adão angustiado, na expressão "não é bom que o homem esteja só", contudo, implicitamente, parece sim propor algo nesse sentido; visto que, o que não é bom, faz mal. Se torna impossível não estabelecer, em certas medidas, uma relação entre Gênesis e as ideias oriundas da cultura do Antigo Oriente, como por exemplo, a narrativa do "Dilmum", o Éden da literatura suméria. Nele, há conteúdos análogos, que parecem ser o arcabouço indireto para a concepção futura do Gênesis.


Embora Israel não tenha coexistido nos tempos sumérios, sabe-se que, sem dúvidas, é devedor da cultura e pensamentos do mundo cananeu, o qual foi fortemente influenciado pela produção cultural sumério-mesopotâmico. Na narrativa do Dilmum, o deus sumério Enki após desejar as delícias das árvores frutíferas do paraíso e prová-las, foi acometido por doenças terríveis ao ser amaldiçoado pela deusa mãe "Ninhursag", e dentre as dores sofridas, uma acometia sua "costela". 

Depois de convencida pelos deuses, Ninhursag salva Enki da dor, criando Nin-ti como método curativo. A palavra "Nin" significa "senhora ou dama", e "Ti" possuí duplo sentido, significando tanto "costela" quanto "vida" (senhora da costela/ senhora da vida), semelhante a Eva חוה, que significa "a que vive" ou genitora de vida". Eva, além de sublinhar o valor do feminino, consequentemente afirma a importância das relações inter-humanas, pois nem todos os prazeres de um paraíso rico e abundante podem saciar a necessidade que temos de existir em outros. A auteridade produz real sentido na vida.

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