Belkiss J. Rabello
Tolstói manteve um interesse particular pela Índia, e foi um dos principais pensadores ocidentais a participar da elaboração da teoria da não-violência.
O indiano Tarak Nath Das (1884-1958) foi, em um primeiro momento, totalmente contrário às idéias sobre a não-violência. Sua ambição era libertar a Índia pela luta. Mais tarde, ele tornou-se amigo íntimo e também colaborador de Gandhi. Em 1908, T. Das, então editor de uma revista revolucionária chamada The Free Hindustan, escreve uma carta a Tolstói em que exprime sua opinião sobre as injustiças impostas pela Inglaterra, a mesma Inglaterra que, na mesma época, nutria-se de outros interesses e escravizava milhões de indianos. Segundo Tarak N. Das, apenas um movimento violento poderia libertar seu país. Tosltói responde-lhe, escrevendo aquela que ficaria conhecia como Carta a um Hindu, que se tornou um verdadeiro tratado de não-violência. Nela, Tolstói expõe suas teorias sobre a não-violência e sobre o amor. Nesta carta, Tolstói tentou igualmente alertar os indianos sobre a falta que cometiam ao renegar sua antiga sabedoria para abraçar o erro do Ocidente. Tolstói começa a carta citando um verso do livro sagrado dos Vedas, e termina-a citando Krishna. Mahatma Gandhi, que já conhecia parte da obra de Tolstói, leu a Carta a um Hindu em uma tradução feita por Tchertkov. Depois 86 Belkiss J. Rabello. Correspondência entre L.N. Tolstói e M.K. Gandhi de lê-la, Gandhi escreve a Tolstói, pedindo-lhe autorização para imprimi-la em 20.000 exemplares de seu jornal Indian Opinion, publicando-a em 1910, pouco tempo antes da morte de Tolstói. Além disso, Gandhi também o informa sobre o que ocorria na África do Sul, sobre seus pensamentos a respeito da resistência passiva, dentre outros assuntos. Depois da primeira carta escrita por Gandhi, datada de 1 de outubro de 1909, ambos mantêm uma correspondência densa, porém breve, interrompida definitivamente pela morte de Lev Tolstói. Conseguimos reunir quatro cartas de Gandhi para Tolstói: a primeira, escrita em 1 de outubro de 1909; a segunda, em 11 de novembro de 1909; a terceira, em 4 de abril de 1910 e, a última, em 15 de agosto de 1910. Além delas, três cartas de Tolstói endereçadas a Gandhi: a última, escrita em 7 de setembro de 1910; a penúltima, escrita em 8 de maio de 1910 e, a antepenúltima, em 7 de outubro de 1909.
“[...] Dormi mal. Passeei. Escrevi uma carta ao hindu e recebi uma
simpática carta do hindu do Transvaal. A carta para o hindu está
muito fraca”.
“[...] Nada fiz de manhã. Escrevi uma carta para o hindu”.
24 de setembro de 1909.
L. N. Tolstói, Diários.
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