Na segunda metade do século XIX, desenvolveu-se entre os judeus da Europa a idéia da reconquista do Sião. A emigração para Jerusalém ganhou força bem antes da criação de um verdadeiro Estado
“A população israelita da palestina conta com cerca de 13 mil almas.
Aproximadamente 90% delas vivem em Jerusalém, Hebron, Safed e Tiberias”.
Charles Netter, um dos pioneiros da implantação judaica na Palestina,
escreveu esaas palavras em um relatório de 11 de janeiro de 1869,
dirigido à Aliança Israelita Universal, fundada nove anos antes em seu
apartamento em Paris.
Na época, a população das três regiões que compunham a Palestina, ainda
sob o domínio do Império Otomano, era estimada pelas autoridades turcas
em 350 mil pessoas. Essa Palestina de então compreendia o atual
território de Israel, a Jordânia, a Cisjordânia e a faixa de Gaza. Os
judeus representavam apenas uma pequena minoria na região, em que viviam
muçulmanos, claramente majoritários, mas também cristãos ortodoxos,
católicos, maronitas, armênios, protestantes e coptas.
Aos mustarabes, os judeus que jamais emigraram daquela terra, vieram se
juntar alguns milhares de sefaraditas, israelitas que fugiram da Espanha
da Inquisição a partir de 1492. E ainda os asquenazis da Europa central
e oriental e os magrebis, originários da África do Norte. Daquele total
de 350 mil habitantes da Palestina, havia menos de 15 mil hebreus.
Nesse tempo, parecia uma utopia a idéia de retorno à Terra Santa de uma
grande população israelita, para lá edificar um Estado. O projeto havia
sido concebido por Theodor Herzl – jornalista e dramaturgo judeu,
nascido em Budapeste em 1860 – e oficializado no congresso de fundação
da organização sionista em Bale, em 1897.
Até sua morte, em 1904, Herzl estimava que a
criação do Estado judeu na Palestina seria uma unanimidade. Aos que se
inquietavam com a hostilidade dos árabes, ele respondia: “Por que se
levantariam contra nós se estamos trazendo o progresso para eles?”
Não parece ter passado por sua cabeça a idéia de que o sionismo político, um movimento nacional do povo judeu, poderia provocar, como reação, um idêntico movimento do povo árabe na Palestina.
Quem eram e de onde vinham esses imigrantes? Primeiramente, eram os filhos da perseguição. Na Rússia, na Romênia, na Polônia, o anti-semitismo se manifestava por toda parte. Ora, cinco milhões de israelitas viviam no império dos czares. Vários deles sonhavam escapar de uma vida sem esperanças – tendo como opção, também, os Estados Unidos.
Desde 1870 os judeus do Leste da Europa começaram a voltar à Palestina. Criado em 6 de fevereiro de 1882 por um grupo de estudantes de Kharkov prontos para partir à Terra Santa, um primeiro movimento tratou de coordenar seus deslocamentos. Era o #bilu#, fruto de um anagrama feito a partir das iniciais de um versículo do profeta Isaías.
Em 1888, as autoridades otomanas decidiram interromper a entrada de imigrantes na região. Mas os judeus europeus conseguiram contornar o decreto e se estabeleceram na Terra Santa. Foi a primeira #alya# (escalada), termo que faz referência à colina de Sião, em Jerusalém.
A segunda alya (1904-1906) mobilizou judeus russos. Essa onda levou para a Palestina grupos de judeus com posições de esquerda claramente afirmadas, freqüentemente marxistas.
Não parece ter passado por sua cabeça a idéia de que o sionismo político, um movimento nacional do povo judeu, poderia provocar, como reação, um idêntico movimento do povo árabe na Palestina.
Quem eram e de onde vinham esses imigrantes? Primeiramente, eram os filhos da perseguição. Na Rússia, na Romênia, na Polônia, o anti-semitismo se manifestava por toda parte. Ora, cinco milhões de israelitas viviam no império dos czares. Vários deles sonhavam escapar de uma vida sem esperanças – tendo como opção, também, os Estados Unidos.
Desde 1870 os judeus do Leste da Europa começaram a voltar à Palestina. Criado em 6 de fevereiro de 1882 por um grupo de estudantes de Kharkov prontos para partir à Terra Santa, um primeiro movimento tratou de coordenar seus deslocamentos. Era o #bilu#, fruto de um anagrama feito a partir das iniciais de um versículo do profeta Isaías.
Em 1888, as autoridades otomanas decidiram interromper a entrada de imigrantes na região. Mas os judeus europeus conseguiram contornar o decreto e se estabeleceram na Terra Santa. Foi a primeira #alya# (escalada), termo que faz referência à colina de Sião, em Jerusalém.
A segunda alya (1904-1906) mobilizou judeus russos. Essa onda levou para a Palestina grupos de judeus com posições de esquerda claramente afirmadas, freqüentemente marxistas.
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Chaim Weizman assume o cargo de primeiro presidente eleito do Estado de Israel, em 1949 | |
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Em
1904, a população judia da Terra Santa ultrapassava 65 mil pessoas. Em
1914, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, já era de 85 mil
habitantes. Tel Aviv foi fundada em 1909, em dunas desérticas, por cerca
de 60 famílias de pioneiros.
Mesmo assim, em 1914, os judeus constituíam no máximo 12% da população
palestina. A situação mudou bruscamente em 2 de novembro de 1917, quando
Arthur Balfour, ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha,
escreveu a Lionel Walter Rothschild, presidente da Federação Sionista da
Grã-Bretanha. Dizia na carta que “o governo de Sua Majestade pondera
favoravelmente sobre o estabelecimento na Palestina de um lar nacional
para o povo judeu”. O nó da questão era que o mesmo governo já prometera
o mesmo para os árabes, que combateram o domínio turco na região.
Os árabes não gostaram nada disso. Por outro lado, a colonização
agrícola por judeus se intensificava na Palestina. Resultado: os
conflitos se inflamaram e conduziram as duas partes a formarem milícias
armadas.
Durante a década de 1920, a importância numérica do #Yishuv# (era assim
que a comunidade judia da Palestina passou a se auto-designar na época)
cresceu. Segundo os ingleses, que administravam a Palestina por decisão
da Liga das Nações (o chamado mandato britânico), entraram 7.844
imigrantes em 1922; 7.421 em 1923; 12.856 em 1924; 33.801 em 1925;
13.080 em 1926; e 2.713 em 1927. De acordo com o recenseamento de
outubro de 1922, os judeus da Palestina somavam 83.794, em uma população
total de 757.182 habitantes.
Em agosto de 1929, judeus e árabes se enfrentaram violentamente em uma
disputa pelo acesso ao Muro das Lamentações. Uma semana depois, 133
judeus e 116 árabes haviam morrido. Isso não impediu a continuidade da
imigração israelita. De 4 a 5 mil pessoas entre 1929 e 1931, pulou para
9.500 em 1932.
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Theodor Herlz, jornalista e dramaturgo húngaro que fundou o movimento sionista no século XIX | |
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Em
1933, com a dupla esperança de salvar os judeus da Alemanha e de
permitir sua emigração para a Palestina, a Agência Judaica concluiu o
acordo Haavara (transferência) com Hitler. O acerto previa a partida de
judeus alemães e sua instalação na Terra Santa, em troca de um boicote
econômico mais discreto à Alemanha nazista por parte das comunidades
judaicas e do pagamento de somas exorbitantes.
O fluxo de judeus vindos do Leste Europeu continuava. Durante o ano de
1933, a imigração atingiu 30 mil pessoas. A cifra subiu para 42 mil no
ano seguinte e para 62 mil em 1935, ano do apogeu. Nesse ritmo, não
surpreende que os 460 mil judeus que residiam na Palestina em 1939
representassem quase um terço da população total, estimada em pouco mais
de um milhão de pessoas.
Entre 1936 e 1939, um Alto Comitê árabe comandou uma revolta sem
precedentes contra os imigrantes e os britânicos. Um conflito cada vez
mais violento, no qual os homens da Haganá, o exército secreto judeu, e
do Irgun, um grupo terrorista clandestino, enfrentaram os árabes, menos
organizados, mas igualmente decididos: terrorismo, contra-terrorismo,
sabotagens, execuções sumárias e ataques contra vilarejos.
No meio dessa tensão, a Grã-Bretanha atuou de modo conciliador. Fez
concessões aos árabes em 1936, com a diminuição oficial da cota de
imigração, que caiu de 4.500 a 1.800 pessoas por ano. E também aos
judeus: a comissão presidida pelo lorde William Robert Peel se
comprometeu com a divisão da Palestina em dois Estados.
Por esse tempo, a perspectiva era de redução da porção israelita na
população palestina. A taxa de natalidade dos árabes (50 por mil
habitantes) era claramente superior à dos judeus (32 por mil
habitantes). A tendência à diminuição percentual se mantinha mesmo se
levado em conta que a taxa de mortalidade era de 12 por mil habitantes
para judeus, e de 35 por mil habitantes para árabes.
Em junho de 1945, a Agência Judaica, que havia
angariado importantes apoios nos Estados Unidos, pediu a entrada
imediata de 100 mil imigrantes na Palestina. O governo britânico cedeu,
impondo o limite de 1.500 por mês.
David Ben Gurion, que mais tarde fundaria o Estado de Israel, e a direção do Yishuv decidiram retomar a luta armada contra os ingleses, suspensa durante a Segunda Guerra. E recolocaram em prática uma forma de luta que havia sido inaugurada em pequena escala no fim dos anos 1930: a imigração ilegal.
Com comitês implantados na Itália, na Romênia e na França, o grupo de Gurion fretou navios destinados a encaminhar os clandestinos à Terra Santa. Apenas 2.500 deles, de um total de 70 mil, conseguiram desembarcar na Palestina.
Mas o objetivo da política de imigração ilegal era, além de prático, psicológico e midiático. Criou-se no seio das comunidades judaicas do mundo o mito dos sobreviventes do Holocausto acolhidos por jovens sionistas cheios de vigor, que os carregavam no colo no desembarque na Terra Prometida. Entre os não judeus, ganhou força a imagem de passageiros mártires, cuja única esperança era a criação rápida de um estado judeu na Palestina. Isso os ajudou a marcar pontos na opinião pública internacional, principalmente a americana.
David Ben Gurion, que mais tarde fundaria o Estado de Israel, e a direção do Yishuv decidiram retomar a luta armada contra os ingleses, suspensa durante a Segunda Guerra. E recolocaram em prática uma forma de luta que havia sido inaugurada em pequena escala no fim dos anos 1930: a imigração ilegal.
Com comitês implantados na Itália, na Romênia e na França, o grupo de Gurion fretou navios destinados a encaminhar os clandestinos à Terra Santa. Apenas 2.500 deles, de um total de 70 mil, conseguiram desembarcar na Palestina.
Mas o objetivo da política de imigração ilegal era, além de prático, psicológico e midiático. Criou-se no seio das comunidades judaicas do mundo o mito dos sobreviventes do Holocausto acolhidos por jovens sionistas cheios de vigor, que os carregavam no colo no desembarque na Terra Prometida. Entre os não judeus, ganhou força a imagem de passageiros mártires, cuja única esperança era a criação rápida de um estado judeu na Palestina. Isso os ajudou a marcar pontos na opinião pública internacional, principalmente a americana.
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Manifestação dos árabes de Jerusalém em 1929 contra a presença judaica na Palestina | |
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Como
o líder histórico dos árabes e mufti de Jerusalém, o chefe muçulmano
Amin al-Husseini, foi desconsiderado internacionalmente por sua política
de colaboração com a Alemanha, os palestinos não dispunham de nenhuma
organização política ou militar capaz de defender sua causa com
eficácia. Eles passaram a depender da Liga Árabe (formada por Egito,
Iraque, Líbano, Arábia Saudita, Síria, Transjordânia, Iêmen e mais um
representante palestino sem poderes), criada no Cairo em 22 de março de
1945.
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