As Raizes do NAZISMO


Em julho de 2005, Elliot Stein, um jovem de 23 anos do Brooklin, Nova York, jantava com sua namorada num restaurante à beira-mar em Nova Jersey. Após o jantar, o senhor Stein recebeu a conta e ficou chocado com o que viu. Na nota estavam rabiscadas as seguintes palavras: casal judeu. Ao reclamar, disseram-lhe que a anotação fora feita para que a garçonete identificasse a mesa do casal. Mais tarde naquele mês, a mesma anotação apareceu em seu extrato do cartão de crédito.

A Procuradoria Geral de Nova Jersey abriu uma investigação a respeito. Quatro anos antes desse incidente, o embaixador da França na Grã-Bretanha, Daniel Bernard, participou de um jantar festivo em Londres, durante o qual se referiu ao Estado de Israel como “aquele paisinho de m****”.1 Será que esses incidentes são meras aberrações isoladas? Se você fizer uma pesquisa pela internet em busca da expressão anti-semitismo verá que não são. O mundo tem testemunhado um aumento alarmante no número de incidentes anti-semitas, inclusive ataques contra cemitérios, sinagogas, empresas e estabelecimentos comerciais de judeus. Segundo uma recente pesquisa feita pela Anti-Defamation League (Liga Antidifamação), doze países europeus são fortemente anti-semitas.

2 Em agosto de 2005, o papa Bento XVI ratificou tais constatações ao declarar que “hoje em dia, lamentavelmente, estamos testemunhando o surgimento de novos indícios de anti-semitismo”.
3 A comunidade judaica ao redor do mundo observa com muita preocupação esse clima que relembra a Alemanha nazista antes do Holocausto. Naquela época, as ocorrências, parentemente isoladas, eram apenas o prenúncio do que estava por vir: o anti-semitismo da pior espécie que se podia imaginar – a aniquilação planejada de 6 milhões de judeus. O mesmo sentimento que levou ao Holocausto está ressurgindo na atualidade.

O legado de Martim Lutero

Dois fatos indiscutíveis permeiam as Escrituras Sagradas: (1) Deus escolheu o povo judeu para
ser o Seu povo; (2) Ele decidiu dar a esse povo um território específico (a terra de Israel) por direito perpétuo. Infelizmente, surgiu uma certa teologia que rejeita esses fatos. Tal teologia segue o seguinte pensamento: Em virtude do povo judeu ter rejeitado a Jesus como seu
Messias, ele perdeu o direito às promessas que lhe foram feitas.

Essa concepção originou-se em 321 d.C. durante o reinado de Constantino, o qual declarou o Cristianismo como religião oficial do Império Romano. Muitos criam que os judeus eram semelhantes a Judas, que traiu Jesus. Judas foi amaldiçoado. Então, chegaram à conclusão de que os judeus são amaldiçoados e de que Deus, portanto, os rejeitou e não quer mais saber deles. Essa teologia alega que Deus escolheu um outro povo (a Igreja) e um outro lugar: Roma. Até a grande emancipação ocorrida no século XVIII, a Igreja [Católica] chegou mesmo a incentivar os gentios a agirem contra os “assassinos de Cristo”. Durante anos a Igreja [Católica] ensinou que os judeus eram inimigos odiosos de Deus e rebeldes, culpados pelo assassinato do Filho de Deus.

Esses “cristãos” instigaram reinos a elaborar leis que obrigassem o povo judeu a usar emblemas distintivos em suas roupas, a viver separados dos gentios em guetos e, se necessário, a serem expulsos para que a ordem social fosse preservada. A história eclesiástica está repleta de exemplos de clérigos que ridicularizaram
o povo judeu; Inácio, Justino Mártir, João Crisóstomo e Gregório de Nissa são apenas alguns
deles. Eles criam que o pecado dos líderes judeus de exigir a morte de Jesus passou ao povo judeu para sempre.

De todos os líderes da Igreja, verdadeiramente nascidos de novo, que assumiram tal posição, nenhum causa mais tristeza do que Martim Lutero, o grande reformador nascido na Alemanha. Embora tenha escrito muitos tratados maravilhosos para benefício dos crentes em Cristo, Lutero era um anti-semita ferino. Em seu livro intitulado On the Jews and Their Lies (Quanto aos Judeus e Suas Mentiras), ele retratou os judeus como “peçonhentos”,
“vermes miseráveis” e “bichos nojentos”, 4 além de incentivar a violência contra eles:

Uma teologia surgida em 321 d.C. alega que Deus rejeitou Israel
e escolheu um outro povo (a Igreja) e um outro lugar: Roma.

O que nós, cristãos, devemos fazer com os judeus, esse povo rejeitado e condenado? Incendiar suas sinagogas ou suas escolas e [...] enterrar e cobrir de entulho tudo o que não for destruído pelo fogo, para que ninguém mais veja uma pedra ou as cinzas deles [...]. Eu recomendo que suas casas sejam arrasadas e destruídas [...] que todos os seus livros de oração e escritos talmúdicos
[...] sejam confiscados, [...] que seus rabinos sejam proibidos de ensinar
[...] Recomendo a suspensão do salvo- conduto para os judeus nas estradas [... e] que todos os seus valores em dinheiro, bem como seus tesouros em ouro e prata, sejam confiscados.5 O que o levou a escrever de maneira tão desprezível? Ele cria que “depois do Diabo, não há inimigo mais cruel, mais venenoso e violento do que um verdadeiro judeu”.6 As críticas violentas de Lutero contra os judeus foram muitas vezes recicladas como justificativa para o anti-semitismo. Elas ainda são usadas até hoje.


A obsessão pelo nacionalismo

Quando Napoleão levou a França à vitória contra a Alemanha no final do século XVIII, os franceses ocuparam o território alemão por vinte e cinco anos. Durante esse tempo, eles propagaram os ideais do Iluminismo, que davam ênfase à razão, ao progresso do conhecimento, à liberdade e à justiça para todos os cidadãos. Os judeus na Alemanha se tornaram beneficiários do pensamento “iluminista”.

O povo alemão, com ódio da ocupação francesa, ofendeu- se com os benefícios estendidos ao povo judeu. Entre os alemães surgiram dois filósofos, ambos ferrenhos nacionalistas: Conhecido como o pai do nacionalismo alemão, Johann Gottlieb Fichte ensinava filosofia na Universidade de Berlim. Ele considerava os judeus como corruptos, uma ameaça
à riqueza da herança e às habilidades do povo alemão.

Caracterizava a comunidade judaica como “um poderoso Estado [que] se estende por quase todos os países da Europa, o qual tem intenções hostis e se envolve constantemente em disputas com todos os outros países”.7 Com a morte de
Fichte em 1814, o manto nacionalista não poderia ter caído sobre ninguém mais do que Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Para Hegel, o Estado (a Alemanha) era tudo e servia como um purificador moral. Transcendia a importância de qualquer indivíduo. Hegel ainda dizia que todo cidadão alemão tinha a responsabilidade e o dever de servir ao Estado. A partir de então, os judeus foram vistos como “os outros”, estranhos ao Estado alemão.

Os símbolos alemães foram usados publicamente contra os judeus em manifestações. Em 1819 estouraram violentos distúrbios anti-semitas e as multidões cantavam em coro: “Morte e destruição a todos os judeus!”8 A barreira de separação entre judeus e alemães aumentou. Os alemães foram desafiados a adotar o Volk (povo), um conceito que incorporava a essência germânica.

Maior do que apenas o povo, maior do que a terra, a cultura ou a tradição, o Volk personificava a alma do povo alemão, seu senso de participação e seu destino comum. A mentalidade do Volk, associada à postura religiosa de que o Povo Escolhido de Deus fora amaldiçoado na condição de assassino de Cristo, instilou medo no povo judeu e fez com que ele estivesse sempre sob suspeita. Christian Lassen (1800-1876), professor da matéria de Civilizações Antigas na Universidade de Bonn, afirmou categoricamente que o povo semita é inerentemente “interesseiro e xclusivista”.

9 O filósofo alemão Paul Lagarde (1827-1891) descreveu os judeus como uma bactéria atogênica: Uma pessoa teria que ter um coração tão duro quanto o couro de um crocodilo para não sentir pena dos pobres e explorados alemães e [...] para não odiar os judeus e desprezar aqueles que – desprovidos de sentimento humano – defendem esses judeus ou são muito covardes para pisar e esmagar essa gente usurária até a morte. Com vermes parasitas e bactérias não se negocia, nem devem tais vermes e bactérias ser instruídos; eles precisam ser exterminados completamente o mais rápido possível.

Quando Napoleão levou a França à vitória contra a Alemanha no final do século XVIII, os franceses ocuparam o território alemão por vinte e cinco anos. Durante esse tempo, eles propagaram os ideais do Iluminismo, que davam ênfase à razão, ao progresso do conhecimento, à liberdade e à justiça para todos os cidadãos.

Dois importantes livros também acenderam mais as chamas do sentimento
antijudaico. Foundations of the 19th Century (Fundamentos do Século XIX), de C. S. hamberlain, sempre foi considerado “a Bíblia dos racistas”.11 Chamberlain exercia grande fascínio sobre as
massas com suas “provas” falsificadas a respeito da superioridade da raça ariana e dizia que os judeus “se alimentavam deles [dos alemães] e sugavam – em todos os níveis sociais – a sua força vital”.12 No livro Foundations of the 19th Century, ele escreveu que: (1) os judeus eram hostis e corrompiam a civilização; (2) Os arianos eram os responsáveis por todas as contribuições importantes para a civilização; (3) Jesus não tinha sido judeu, mas ariano.

(4) A análise da isionomia era uma ciência legítima capaz de predizer o caráter por traços físicos. Esse livro vomitava jargões religiosos anti-semitas que, na maioria das vezes, eram citações dos escritos
de Martim Lutero. Publicado em 1895, o livro chegou à marca de 28 edições até 1942, “com mais de 250 mil conjuntos de dois volumes” vendidos, segundo escreveu David A. Rausch em A egacy
of Hatred (Um Legado de Ódio).13 Duas pessoas extremamente versadas no livro de Chamberlain foram o Kaiser (imperador) Guilherme II e, mais tarde, Adolf Hitler. A segunda obra literária de maior relevância foram Os Protocolos dos Sábios de Sião.

Essa pouca vergonha sinistra afirmava que havia (e que ainda há) uma conspiração judaica para assumir o controle do mundo. Originalmente escrito por Maurice Joly em 1864 para delinear o desejo de Napoleão de controlar o mundo, o livro foi, mais tarde, fraudulentamente forjado para se transformar nos infames Protocolos, através da substituição da palavra francês e suas correlatas, pelo termo judeu e seus semelhantes. Essa obra influenciou profundamente o povo alemão, levando muitas pessoas a crer no engodo de que um grupo de judeus agia secretamente para se apoderar da Alemanha e do mundo.

Em 1927, Henry Ford, o magnata da indústria automobilística, publicou trechos extraídos dos Protocolos dos Sábios de Sião no jornal The Dearborn Independent.
Tais pensamentos levaram à proliferação das opiniões anti-semitas na Alemanha. Em 1879, o
historiador alemão Heinrich von Treitschke publicou uma série de artigos anti-semitas, o último deles intitulado: “The Jews Are Our Misfortune” (“Os Judeus São a Nossa Desgraça”).14 O livro dele instigou 250 mil pessoas a fazerem um abaixo-assinado exigindo que os judeus fossem proibidos de assumir cargos governamentais ou de ensino.

15 Os políticos locais começaram a utilizar essa plataforma ideológica anti-semita em suas campanhas, ao declararem que protegeriam a Alemanha do perigo representado pelos judeus, os quais, segundo eles, contaminavam a sociedade. Requerimentos circularam no intuito de coibir a imigração judaica. Em 1890, Hermann Ahlwardt conquistou um assento no Reichstag (o Parlamento alemão) embasado na plataforma política-ideológica de que os judeus eram uma epidemia de cólera, bacilos patogênicos e feras predadoras. Em resposta, os judeus tentaram demonstrar sua lealdade aos alemães. O Judaísmo Reformado (liberal) tinha começado na Alemanha, em parte como uma maneira dos judeus manterem sua identidade judaica, aparentando, todavia, um jeito de ser mais gentílico.


O Kaiser (imperador) alemão Guilherme II era extremamente versado no livro de Chamberlain. Mais tarde, o mesmo ocorreu com Adolf Hitler.

Muitos Judeus procuraram ser menos distintivos no seu caráter judaico e começaram a se misturar na sociedade ao levar uma vida mais contextualizada, preservando, porém, a sua identidade.

A amargura da derrota

Em 28 de junho de 1919, derrotada e humilhada depois de uma guerra terrivelmente custosa, a Alemanha foi forçada a assinar sua rendição em Versalhes, na França. As condições de paz impostas pelo Tratado de Versalhes, obrigaram a Alemanha a abrir mão da ideologia do Volk que tão ardentemente adotara, bem como levaram os alemães a admitir que foram os únicos ulpados
por aquela que posteriormente ficou conhecida como a I Guerra Mundial.

A Alemanha foi obrigada a reduzir seu exército para 100 mil homens, teve que devolver territórios e pagar indenizações. A região da Alsácia-Lorena foi restituída à França; os territórios conquistados por Otto von Bismarck foram devolvidos à Bélgica, Dinamarca e Polônia. Indenizações foram fixadas no valor de 132 bilhões de marcos de ouro, “ou cerca de 33 bilhões de dólares, uma soma praticamente impossível de ser paga por eles”.

16 A sexta parte de toda a população de judeus da Alemanha, aproximadamente 100 mil pessoas, lutou bravamente pelo seu país na guerra e 12 mil deles perderam sua vida. Entretanto, a culpa pela derrota foi colocada nos judeus. Circularam acusações de que os soldados judeus não lutaram pela Alemanha, mas sim para “assumir o controle da nação”.17 Em conseqüência da derrota, [o imperador Guilherme II abdicou] e a forma de governo adotada na Alemanha passou a ser a República de Weimar. Enquanto alguns alemães aceitaram essa nova república, outros ficaram amargurados pela humilhação sofrida em Versalhes. Um dos soldados que sobreviveram à guerra achou o gosto da derrota amargo demais; o nome dele era Adolf Hitler.

A Alemanha foi preparada para dar as boas-vindas a um líder imbuído do orgulho da entalidade do Volk, que a livraria daquelas criaturas traiçoeiras (os judeus). Em 1933, surgiu um homem
determinado a fazer exatamente isso. Seu nome era Adolf Hitler.

O caos econômico

Em virtude das pesadas indenizações que tinham de ser pagas, a economia alemã cambaleou. A inflação subiu como um foguete para o espaço.

Em 1919, nove marcos alemães valiam um dólar. Por volta de 1923, esse mesmo valor equivalia à assombrosa quantia de 4,2 trilhões de marcos. O presidente Paul von Hindenburg conseguiu renegociar o pagamento das indenizações com os Aliados e estabelecer medidas de controle da inflação pela emissão de uma nova moeda, o Reichsmark.

O país começou a progredir. Apesar do clima anti-semita, os judeus também prosperavam. Então aconteceu a quebra das bolsas de valores em 1929. O incidente gerou desemprego, que produziu desânimo, que criou ressentimento e fez com que todos visassem os judeus. Em muitos círculos religiosos, sociais, políticos e acadêmicos, a própria existência do povo judeu se tornou a desculpa para todos os problemas da Alemanha.

Os alemães acreditavam que se conseguissem resolver o “problema” judeu, todos os seus outros problemas desapareceriam. O país foi preparado para dar as boas-vindas a um líder imbuído do orgulho da mentalidade do Volk, que o livraria daquelas criaturas traiçoeiras. Esses “inimigos” do Reich tinham que ser identificados, isolados e eliminados sem que a Alemanha se sentisse culpada. Em 1933, surgiu um homem determinado a fazer exatamente isso. Seu nome era Adolf Hitler.

(Israel My Glory)
fonte: Revista Notícias de Israel

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