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Voz que clama no deserto?


Prof de Hebraico bíblico e moderno do Antigo Testamento.




(Isaías 40.3-5) Hebraico-transliteração: "kôl korê bamidbar panû dêrekh Adonay, yashrû baaravá messilá Leloheynu". A compreensão desse texto e uma tradução exata, exige conhecimento do hebraico, de suas pontuações vocálicas e de cantilação, e também, do contexto histórico que o envolve. 

Sabe-se, entre os acadêmicos, que o livro de Isaías constitúi-se uma costura de três autores diferentes: 1)o Proto-Isaias (o profeta Isaías do século VIII a.C), que vai do capítulo 1 ao 39; 2) o Deutero-Isaias (provavelmente um grupo profético do exílio babilônico), que vai do capítulo 40 ao 55; e o Trito-Isaias, que vai do capítulo 56 ao 66. Isaías 40, pertence, provavelmente, ao período final do exílio babilônico 538 a.C., em que o rei Ciro da Pérsia declara o retorno dos povos deportados às suas respectivas terras.

 A linguagem do Deutero-Isaias, está envolta na ideia do "Caminho do Rei", uma prática persa de endireitar estradas para facilitar as transações e a administração do império. Isaias utiliza-se dessa realidade para proclamar o momento do retorno á Judá, e diz que, "uma voz está clamando!"; voz que estimula o preparar/ endireitar o caminho/ vereda no deserto que separava a Babilônia de Judá. 

Além do mais, os sinais de cantilação da massorá, a forma poética do texto em paralelismo sinonímico, não permitem que "kôl korê bamidbar" sejam palavras lidas em uma relação conjunta, como: "voz do que clama no deserto". A relação dos paralelismos é nítida: bamidbar (no deserto) faz paralelismo com baaravá (no ermo); panû (preparai) faz paralelismo com yashrû ( endireitai); dêrekh (caminho), faz paralelismo com messilá (vereda), e o tetragrama יהוה (nome de Deus/ lido como Adonay) faz paralelismo com Leloheynu ( para o nosso Deus).

 Percebe-se que, "kôl korê" (uma voz clama) não pertence ao jogo poético de paralelismos. A tradução então, seria " Uma voz clama: no deserto preparai o caminho de Adonay, endireitai no ermo vereda para o nosso Deus". Essa tradução, é fortalecida pelo texto do Isaías de Qumran, que não possuí a introdução "kôl Korê" (uma voz clama), pois apenas inicia-se com "bamidbar" (no deserto). "Voz do que clama no deserto", é tradução da LXX e da Peshita aramaica.

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