Tese de teólogo bauruense revela dor física de Jesus na Via-Crúcis

Em tese de mestrado, teólogo procurou descobrir aos olhos da medicina a dimensão do sofrimento na Via Crúcis


Você tem ideia do que Cristo sofreu? Como foram as suas dores? Para responder essa pergunta, o teólogo bauruense pós-graduado José Rubens Maranhão Júnior mergulhou em uma pesquisa na Faculdade Teológica das Assembleias  de Deus junto a médicos para entender a dimensão do que foi o sofrimento daquele que é considerado pelas igrejas cristãs o filho de Deus.
Aceituno Jr.
Foto com efeito especial feita na Vila Santa Luzia, em Bauru, durante encenação na Paixão de Cristo
“Estou terminando doutorado em teologia (hoje, ele estuda os milagres conhecidos de Cristo) e fiz um estudo de mestrado detalhado sobre o que sofreu Jesus Cristo à  luz da medicina, nos momentos que antecederam e durante a crucificação. É muito curiosa esta visão cristã bíblica misturada à medicina”. 
Curiosa e estarrecedora. Nem é preciso ter muito conhecimento histórico e bíblico para “sentir”, de certa forma, as dores atrozes da vítima chamada Jesus Cristo.  Pela tortura que Ele passou, pode-se incluir tudo o que há de horrível e assustador do ponto de vista físico e mental – desde vertigem, cãibras, sede, fome profunda, falta de sono, febre traumática, até as dores da alma diante da zombaria, do constrangimento, da vergonha. Tudo agravado por uma longa duração.
Improvável hoje
É improvável uma dor dessas nos dias de hoje, seja quem for a vítima. Às vezes, as mortes são banais. Mas as condenações, por pior que seja o crime, não contemplam a pena de morte no País.
Os tempos são outros, desde que, em 28 de setembro de 1989, o Brasil ratificou a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. Essa convenção proíbe tratamento desumano ou degradante em seu artigo 16. 
Assim, o estudioso José Rubens Maranhão Jr. acha impossível nos dias de hoje, no Brasil, existir alguém que seja torturado e condenado a suplícios por seus crimes.  “Nem 1% do que foi imputado ao Cristo é possível”. Aliás, só se tem notícias de torturas, e muitas terminando com a morte do torturado, em regimes ditatoriais. No caso do Brasil, mais recentemente, nos porões da Ditadura Militar que começou em 1964, há 50 anos.
Lado humano
Cristo, aos 33 anos, estava num tempo de barbáries, mas havia e houve sim, uma tentativa de lhe dar um julgamento digno. E isso foi feito. O crime pelo qual ele foi condenado? Proclamar-se filho de Deus. 
Por causa disso, o sofrimento físico dele foi atroz. “Imagina o amor de Deus. Você entregar seu próprio filho para ser morto com uma selvageria dessas. Não pode haver amor de pai maior, e não é uma atitude fácil”, sentencia o teólogo. 
José Rubens Maranhão Jr. se interessou pelos estudos bíblicos por vir de uma família expert em matemática, física, ciências exatas. Ele próprio se formou professor da área de exatas.  “Mas enveredei pelo caminho oposto por entender que há algo mais além da luz da ciência. Dá para ser feito um ensinamento com amor, com carinho, de uma forma mais humana”.
Dor física começa com a bofetada na face
Os flagelos de Cristo já começam horas antes. Após a prisão no meio da noite, Jesus foi levado ao Sinédrio - associação de 23 juízes que a Lei judaica ordenava existir em cada cidade para julgar as pessoas. Diante de Caifás, o sumo sacerdote,  Jesus permaneceu calado. E foi ali que sofreu o primeiro traumatismo físico. Jesus foi esbofeteado na face por um soldado, por manter-se em silêncio ao ser interrogado por Caifás. 
Depois, sendo levado de volta à prisão, os soldados do palácio tamparam seus olhos e zombaram dele, pedindo para que identificasse quem o estava batendo. Continuamente esbofeteavam a sua face. Na tentativa de que ele dissesse alguma coisa. É preciso também que se esclareça que, se algumas autoridades constituíam-se de judeus, estavam todos sob o jugo de Roma. “Mal sabiam eles que estavam diante de um homem que iria revolucionar a religião mundial, de alguém que sabia estar cumprindo como Deus e Filho de Deus o destino que lhe era imputado. E esse destino era, com seu próprio sangue, salvar a humanidade”, lembra Maranhão Júnior. Então, o interrogatório era inócuo.
Vale lembrar que, nesse dia, Cristo já era um homem debilitado. Ele mostrava claramente sintomas físicos de um intenso sofrimento. Na noite anterior à execução, seus discípulos dizem tê-lo visto em “agonia” no Monte das Oliveiras. Ficou sem dormir toda aquela noite, mas parecia também ter suado abundantemente. Tanto era o estado de tensão que pequenos vasos sanguíneos em suas glândulas sudoríparas se rompiam, derramando gotas vermelhas tão grandes que caíam ao solo (veja Lucas 22:44). Este sintoma de profunda ansiedade é  descrito pela medicina como hematoidrose.
A manhã do dia trágico
Todas as descrições pesquisadas pelo teólogo José Rubens Maranhão Jr.  partem da Bíblia. “Não saiu nada da minha cabeça, só fui buscar em cima do que a Bíblia Sagrada falava e daí procurei entender à luz da medicina qual seria o sofrimento, estudei e conversei com inúmeros médicos”.  
“Na manhã seguinte à prisão (como diz Marcos 15:1 a 5), Jesus estava surrado, com hematomas, desidratado e exausto por não dormir. Ele foi levado ao rei Herodes e também ao Pretório da Fortaleza Antônia, o centro do Governo do Procurador da Judéia, Pôncio Pilatos”. É quando há uma nova tentativa de entender quem era aquele homem (a primeira foi no interrogatório com Caifás). Se era mesmo um bandido ou um louco. “Aí  como se vê em Lucas 23:8 e 9, Jesus não sofreu maus tratos na mão do rei Herodes e foi devolvido a Pôncio Pilatos”, explica o professor, que lembra também que Herodes àquela altura temia fazer algo contra uma pessoa que, através da fé em Deus, arrebanhava centenas de seguidores e pregava uma justiça diferenciada, a de dar a outra face e perdoar 70 x 7 (referência à cabala usada pelos judaicos e que, de certa forma, dizia perdoar sempre).
A condenação
Acontece na sequência, em resposta à multidão de judeus que achava um absurdo o homem se proclamar Filho Unigênito de Deus, outro episódio também bastante conhecido: o de Jesus Cristo condenado ao açoite e à crucificação, quando “Pôncio Pilatos lava suas mãos”.
A partir daí o que se tem é uma agonia por mais de 600 metros acompanhada pela multidão de forma ávida, com os mais fortes requintes de crueldade.
O açoite com o Flagrum
Reprodução
Flagrum romano utilizado para bater em Jesus Cristo
O Flagrum é um chicote com várias tiras pesadas de couro com duas pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas de cada tira. O pesado chicote é batido com toda força contra os ombros, costas e pernas de Jesus. As pequenas bolas de chumbo primeiramente produzem grandes e profundos hematomas, que se rompem com as chicotadas seguintes. Finalmente, a pele das costas está pendurada em tiras e toda a área está uma irreconhecível massa de tecido ensanguentado. O açoite não leva à morte porque ele ainda terá que cumprir o calvário de ser crucificado. Jesus, quase desmaiado, é desamarrado e cai no pavimento de pedra, molhado com seu próprio sangue, onde fica até o início da chamada Via Crucis. Até ter condições de empreender a caminhada.
A cruz pesadíssima e o INRI
A cruz pesava cerca de 55 quilos, rústica, com lascas de madeira, áspera que rasgam a pele e os músculos já dilacerados pelo açoitamento. Ao contrário do que se imagina nos dias atuais, o formato da Cruz é em T, ou seja.  Também sabe-se que o condenado só carregava o patíbulo. Carregar o patíbulo já era um castigo bem rude para quem acabara de sofrer severa flagelação de açoites e consequentemente perdera boa parte de seu sangue e de suas forças. Ele não teria condições de carregar a cruz inteira. Nunca se fala em arrastar a cruz, todos os textos trazem o termo “bastazein”, que significa carregar, e nunca “thahere”, que seria arrastar.
À frente do condenado sempre iria alguém levando uma tábua com o nome dele. Ou pregava-se em cima da cruz na falta de alguém para levar. Essa tradição foi feita de forma jocosa para Cristo. Está lá o INRI – Jesus de Nazaré, Deus dos Judeus. Uma forma de humilhá-lo.
A coroa de espinhos e o cetro
Se era rei, tinha que ter uma coroa, então, um galho flexível de espinhos é enrolado em forma de coroa pressionando sua cabeça e causando uma intensa hemorragia. O couro do crânio é uma das regiões mais irrigadas do nosso corpo. 
O cetro é um pau. Zombando ainda mais dele, pois todos os reis antigos ostentavam um cetro e, no pensamento zombeteiro dos soldados romanos que faziam dele uma grande piada, esse pau não serve apenas como cetro e é usado para bater “estaca” em sua cabeça, fazendo com que os espinhos se fixem ainda mais.
O manto e o trajeto
Em respeito ao costume dos judeus, os romanos devolvem a roupa de Jesus. Essa roupa é colocada por
Reprodução
Tese acredita que possa ter ocorrido um colapso cardíaco devido aos sofrimentos
sobre a carne exposta, aumentando a dor. O manto de Jesus era muito pesado e rústico. Aderido ao sangue e grudado nas feridas, causa dores lancinantes. Esse manto é retirado na hora da crucificação. É como se tirar um esparadrapo aderido a uma ferida que não cicatrizou. As feridas voltam a sangrar como se estivesse sendo açoitado novamente. 
Os cerca de 600 metros são num trajeto íngreme de terra branca e cheio de pedregulhos. Jesus cai. Num ato de caridade quando ele tenta se levantar e, apesar do esforço de ficar ereto, o peso da madeira somado ao choque produzido pela grande perda de sangue deixa Jesus ajoelhado. Os músculos humanos já chegaram ao seu limite. Assim, a pesada barra horizontal  é transferida a Simão, o Cirineu, um norte-africano que estava entre os presentes.  Jesus segue ainda sangrando.
Crucificação: a dor fatal
A morte por crucificação foi concebida para que houvesse um sofrimento intenso tão cruel - mas não mortal - de tal forma que a pessoa penaria ali horas e até dias sem descanso algum. Mas quase nunca isso ocorria. Até porque a perfuração do nervo das mãos, ou dos pulsos, causa uma dor tão forte que nem sequer a morfina ajudaria. Há uma dor intensa, ardente e horrível, como relâmpagos atravessando o braço até a medula espinhal. A ruptura do nervo plantar do pé, transpassada pelo cravo também tem um efeito semelhante. 
A posição do corpo sobre uma cruz e com a coroa de espinhos torna a respiração de Jesus algo extremamente difícil. Ele não tinha onde colocar a cabeça por causa da coroa de espinhos. O cérebro fica a ponto de explodir. Quando a vítima cai com o peso mais para baixo, a dor dos cravos nos pulsos corre pelos dedos e pelos braços de forma atroz. Quando se empurra para cima, aí é a vez de os pés sentirem toda a agonia do cravo que rasga os nervos entre os ossos. 
Acredita-se que, com tantos sofrimentos, tenha havido um colapso cardíaco, o que seria a verdadeira causa da morte de Cristo.
O espírito de amor cristão
E com toda essa tortura, com toda essa dor, Jesus consegue lançar frases que vão ficar para a história da humanidade. Olha para os soldados e diz: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”. E, mesmo quando ele pediu água e suspeitou que havia sido desamparado por Deus, “seu lado humano, físico, como todos nós fica à mostra, esse é o espírito cristão”, diz o teólogo Rubens Maranhão Jr. para concluir que “quem nos dias de hoje dá a outra face? Quem irá entregar seu filho para salvar alguém? Um pai dá a vida pelo filho nos dias de hoje, mas não dá seu filho para morrer por alguém”. 

O mistério do papiro da mulher de Jesus continua sem ser revelado

Para os que estão há anos analisando textos evangélicos não é novidade que Cristo estivesse casado e certamente fosse pai


fonte: http://brasil.elpais.com/


papiro gnóstico deve seu nome (Evangelho da Esposa de Jesus, embora não revele sua identidade) à pesquisadora norte-americana Karen King, que está convencida de que se trata de Maria Madalena, mas só agora ele foi confirmado como original, coincidindo com o debate aberto pelo papa Francisco ao afirmar que a Igreja precisa de uma “nova teologia da mulher”

Para nós, que há anos analisamos os textos evangélicos da Igreja, sejam os canônicos ou os apócrifos, sobretudo os gnósticos, não é nenhuma novidade que Jesus foi casado e certamente teve filhos, pois seria algo muito anormal na sociedade judaica daquela época que não fosse assim.

Nada mais precioso para um judeu do que a prole. A ponto de que, na Bíblia, Deus permite aos patriarcas, cujas esposas eram estéreis, que se deitassem com uma escrava que lhes desse um filho.

Os cristãos sempre se perguntaram por que os Evangelhos nunca falam da família de Jesus. E a resposta dos pesquisadores e historiadores foi sempre a mesma: porque para os judeus ter família era algo totalmente normal, tão normal que nem se mencionava. Todos os apóstolos, por exemplo, eram casados, e nos textos sagrados nunca se fala de suas mulheres e filhos. Só uma vez se nomeia de passagem a sogra de Pedro, a quem Jesus curou de uma doença. Mais nada.

Outro dos motivos é que a Igreja, já dos primórdios do cristianismo, rechaçou como “não canônicos” os importantes evangelhos gnósticos, um movimento filosófico e teológico que influiu sobre as primeiras comunidades cristãs e que se contrapunha à teologia da cruz e da redenção, de Paulo de Tarso. Neles, diz-se que Jesus era casado.

Ao final se impôs, já no século II, a teologia de Paulo. A Igreja queimou os evangelhos gnósticos, exceto um punhado deles, escondidos que foram por alguns monges e encontrados por pastores em 1945, no Egito, dentro de ânforas de barro lacradas, e que só agora começam a ser estudados a fundo.

Nesses textos, considerados hereges, se diz que a “mulher de Jesus” era Maria Madalena, a quem a Igreja confundiu durante séculos com uma prostituta, até que precisasse se corrigir, alterando o texto evangélico da liturgia da santa.

Nessa literatura gnóstica, como no papiro, Madalena, que poderia não ser judia, aparece como a “esposa” e “discípula” de Jesus. Trata-se de uma mulher culta e ilustrada, a quem Jesus “confiava segredos” que ocultava dos demais apóstolos, algo que despertava ciúmes em Pedro, que chega a se queixar publicamente disso ao Mestre. Existe, inclusive, o Evangelho de Maria Madalena.

Esses textos contam que Jesus “beijava a boca” de Madalena, algo que nessa filosofia tinha um duplo significado: amor sexual e transmissão de sabedoria, já que, segundo os gnósticos, a verdade se transmitia através da boca.

O papiro não nos diz quem era essa mulher de Jesus. Quem revela esse enigma com uma simples análise hermenêutica são os quatro Evangelhos canônicos, que nos contam que, durante a crucificação, Maria Madalena estava na primeira fila, enquanto todos os discípulos homens ficaram escondidos e com medo.

Madalena aparece também ungindo o cadáver do Jesus. E no domingo de Páscoa é ela a que vai de novo ao lugar da crucificação, e é para ela que aparece ressuscitado, a quem abraça com tal força que o leva a lhe dizer: “Já chega”.

O Pai e Doutor da Igreja, são Tomás de Aquino, perguntava-se, incrédulo, por que Jesus, ao ressuscitar, apareceu a Madalena e não a Pedro e aos seus apóstolos. Isso porque, além do mais, a mulher judia não era fiável nem podia atuar como testemunha em um processo judicial. Por isso, Pedro “não acredita” quando ela vai lhe dizer que Jesus havia ressuscitado, e ele mesmo se dirige ao sepulcro para comprovar isso, encontrando-o vazio.

Os quatro evangelistas colocam Maria Madalena aos pés da cruz. Os três sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) a citam junto com “outras mulheres”, mas o Evangelho de João, que foi o último e mais recente, 90 anos depois da morte de Jesus, e que conhecia bem os outros três, cita apenas Madalena. Mais ainda, oferece detalhes que unicamente ela poderia ter lhe contado em vida, como sua saída no domingo para o Gólgota “na alvorada”, quando “ainda estava muito escuro”, e que diante do sepulcro vazio “se pôs a chorar”.

E quando se encontram Jesus ressuscitado e ela ambos se tratam com uma familiaridade que na cultura judaica de então só se permitia a dois cônjuges, e nem sequer em público.

Quando o escritor José Saramago, Nobel de Literatura, leu meu livroMadalena, o Último Tabu do Cristianismo (Objetiva), no qual se defende essa tese, ele comentou com Pilar, sua esposa: “Se apareceu para ela, antes que a Pedro e até mesmo à sua mesma mãe, claro que era sua mulher”, e acrescentou: “Pilar, se quando eu morrer pudesse ressuscitar, a quem iria aparecer primeiro se não a ti?”.

O papiro copta encontrado em que Jesus fala da “minha mulher”, se for realmente autêntico, como parece, não faria mais do que corroborar o que os teólogos biblistas defendem há mais de 50 anos: que Jesus foi casado com a gnóstica Maria Madalena, a quem aparece antes mesmo que aos apóstolos, que precisaram se resignar a saber por ela da importante noticia da ressurreição.