Anglicano recebe 'Nobel' da teologia

Texto Juliana Batista | 23/06/2013 | 09:41
O 'Nobel' da teologia vai distinguir o teólogo leigo alemão Christian Schaller, e o 
biblista anglicano Richard Burridge, tornando-o no primeiro não católico a receber tal 
reconhecimento
Este ano, a terceira edição do Prémio Ratzinger, o equivalente ao 'Nobel' da teologia, vai 

distinguir o biblista anglicano Richard Burridge, decano do King's College de Londres e 

ministro da Comunhão Anglicana, tornando-o no primeiro não católico a receber tal distinção.



Richard Burridge
Christian Schaller

«Além de ser uma figura eminente no campo dos estudos bíblicos, não só de língua inglesa, 
deu em particular um notável contributo no terreno decisivo do reconhecimento histórico e 
teológico da ligação inseparável dos Evangelhos com Jesus de Nazaré», frisou o cardeal 
Camillo Ruini, presidente do comité científico da Fundação do Vaticano ‘Joseph Ratzinger-
Bento XVI’. A mesma distinção será entregue ao teólogo leigo alemão Christian Schaller. 
Além de professor de teologia dogmática, Christian Schaller é também subdiretor do Instituto
Papa Bento XVI de Ratisbona que está a publicar a obra completa de Joseph Ratzinger.
Segundo a agência Ecclesia, o cardeal Camillo Ruini disse que o teólogo é distinguido «não
só pelo seu contributo nos estudos teológicos», mas também pelo papel que desempenha na publicação da ‘Opera Omnia’ do Papa emérito. O galardão, que tem como objetivo «chamar a atenção da opinião pública» sobre os temas teológicos, será entregue a 26 de outubro.

Ocultismo e Satanismo no Rock e Heavy Metal

Ocultismo e Satanismo no Rock e Heavy Metal

Por João Paulo Andrade | Acessos: 311.952
Enviar correção
Escrita por volta de 1997, esta matéria foi copiada à exaustão em sites por toda a internet nacional. Mas esta é a versão original, publicada no site original. Fico devendo uma atualização. Vai rolar cedo ou tarde. :-
Imagem

Introdução
Desde suas raízes o rock sempre foi associado de uma forma ou de outra ao ocultismo. Mesmo quando não associado diretamente a adoração ao demônio o rock tem sido frequentemente acusado de incitar a rebeldia e despertar sentimentos violentos nos jovens. O objetivo desta página não é acusar o rock nem de maneira alguma denegrir a imagem das bandas aqui citadas. Interpreto os casos e temas aqui citados, mesmo que pareçam negativos, apenas como mais uma das facetas curiosas do rock.
O assunto desta página não é satanismo e não pense encontrar aqui nada além de meras curiosidades. As fontes de parte do material aqui contido são livros evangélicos norte-americanos de acusação ao rock, portanto espere encontrar, no meio do material, muitas bobagens e boatos que são citados apenas como curiosidade. Na maioria dos casos, quando se afirma algo como "ao girar um disco do Led Zeppelin ao inverso se ouvem mensagens satânicas" a interpretação correta deve ser "segundo alguns ao se girar um disco do Led Zeppelin ao inverso se ouvem mensagens satânicas". Para evitar repetição do termo "segundo alguns" ou coisas semelhantes os fatos são apenas citados como verdadeiros, mas em muitos casos não devem ser interpretados como tais.
Não serão muito abordados neste texto bandas declaramente satânicas ou bandas que abordam constantemente o tema. O assunto aqui é ocultismo, satanismo, religião, etc de bandas que não são normalmente consideradas deste tipo. Também não serão na maioria dos casos abordadas bandas obscuras.
Mais uma vez informo que o conteúdo desta página deve ser considerado apenas como curiosidades.
Os Motivos da Associação Frequente entre Rock e Satanismo
Quais seriam as razões das frequentes acusações de grupos, principalmente evangélicos, sobre a ligação entre rock e adoração ao demônio?
a) O rock de uma maneira geral prega a rebeldia contra os costumes vigentes e ataca o sistema vigente, incluindo a religião vigente. Esta anti-religião facilmente é confundida com uma religião anti-cristã.
b) O rock prega o hedonismo, o que é contrário à pregação das igrejas cristãs e frequentemente associado a satanismo. Na realidade o hedonismo, o gozo máximo dos prazeres terrenos (drogas, sexo) é realmente um dos princípios da maior parte das seitas satanistas.
c) O rock prega o individualismo, a vontade própria acima da vontade da maioria. Este é um outro ponto fundamental das seitas satanistas, sendo inclusive o resumo do pensamento do "satanista" inglês Aleister Crowley: "Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei". Isso será melhor abordado adiante.
Devido fundamentalmente a estas três características o rock foi a início taxado de demoníaco. Com as acusações já existentes algumas bandas resolveram levar a polêmica adiante, propositalmente ou não. O maior motivo das acusações de satanismo nas duas últimas décadas se deve ao fato de muitos rock-stars terem adotado abertamente uma atitude (ou ao menos uma aparência) demoníaca, (como KissOzzy OsbourneAlice Cooper, Wasp, etc) enquanto outros abordam com certa frequência o tema do oculto (Rolling Stones, Iron MaidenBlack SabbathAC/DC, etc). Este interesse em parecer demoníaco ou abordar temas demoníacos pode ser explicado facilmente por qualquer uma das seguintes alternativas:
a) Arte. Uma música que aborda o tema satanismo pode ser considerada apenas uma expressão artística sobre o tema, assim como um bom livro ou filme de terror.
b) Rebeldia. A abordagem de temas "proibidos" pode ser apenas mais uma maneira de chocar a sociedade conservadora. Além do mais o ser humano tem uma tendência a apreciar o que é proibido pela maioria.
c) Interesse pelo oculto, o que não implica obrigatoriamente em satanismo. O tema do oculto pode ser abordado apenas pelo fato de despertar interesse e não por despertar credos religiosos.
Algumas Bandas e Artistas Acusados de Satanismo
Robert Johnson - Artista de blues da década de 30 que influenciou direta ou indiretamente todo o cenário do rock. Robert Johnson dizia ter feito um pacto com o demônio em troca de sua musicalidade e do sucesso, tendo abordado este tema em suas músicas. O filme Crossroads (A Encruzilhada, com Ralph Machio, o garoto de Karate Kid) aborda superficialmente a história de Robert Johnson, que morreu envenenado por um marido traído.
Rolling Stones - A primeira banda a abordar o tema satanismo em suas letras com a música Simpathy For The Devil (Simpatia pelo Demônio) e o disco entitulado Their Satanics Majesties Request (Serviço de Sua Majestade Satânica). Além disso em diversos discos colocaram referências a satanismo ou vodoo, como nos álbuns Goats Head Soup (gravuras do encarte) e no álbum Voodo Lounge.
Beatles - Em seus últimos discos abordaram religiões orientais com frequência além de terem abusado do experimentalismo com drogas. John Lennon foi um estudioso do bruxo inglês Aleister Crowley. Crowley é uma das figuras presentes na capa do álbum Sgt Peppers.
Black Sabbath - A primeira banda a adotar abertamente uma temática e visual satânicos. O nome Black Sabbath é uma referência a encontros de feiticeiras. Seus álbuns são algumas vezes adornados com cruzes e demônios. Além disso muitas letras falam de Satan, como NIB e War Pigs.
Ozzy Osbourne - Ex-vocalista do Black Sabbath. Embora não tenha abordado profundamente em suas letras a temática satanista, desenvolveu um visual demoníaco, com maquiagem pesada e mesmo lentes de contato vermelha. A música Suicide Solution foi acusada de gerar suicidios de jovens.
Led Zeppelin - Com certeza a banda mais acusada de ter temas satanistas escondidos em suas letras gravados de tras para frente. O certo é que o guitarrista Jimmy Page foi um profundo estudioso do bruxo inglês Aleister Crowley, chegando a comprar a mansão deste. A morte do baterista John Bonhan e frequentes acidentes envolvendo os membros restantes são considerados por muitos provas definitivas do pacto feito entre a banda e o demônio.
Alice Cooper - O codinome do vocalista (e da banda) segundo ele próprio foi sugerido em uma mesa de ouija (algo semelhante ao "jogo do copo") por um espírito. O visual com maquiagem viria a ser copiado exaustivamente.
Eagles - Embora não tenham absolutamente nenhuma aparência ou temática satânica em sua letras, um ex-produtor acusou a banda de ligações com a organização conhecida como Igreja de Satan. Logo mais descobriu-se que a música Hotel California possuia mensagens satânicas gravadas ao inverso e que tratava na realidade sobre a sede da Igreja de Satan no estado da Califórnia, que havia sido anteriormente um hotel.
Doors - O vocalista Jim Morrison se casou em um ritual pagão com uma bruxa. Além disto Jim Morrison dizia trazer dentro de si o espírito de um feiticeiro índio, um "shaman".
Iron Maiden - Após terem lançado o disco The Number of The Beast (o número da besta) passaram a ser frequentemente taxados de satanistas embora raramente abordem o tema. A mascote Eddie (um simpático morto vivo) das capas dos discos é frequentemente associada a um demônio.
Kiss - Embora não costume abordar temas satânicos em suas letras o visual carregado e truques de palco do baixista Gene Simons (que se veste e se maquia como um vampiro, vomita sangue e cospe fogo) levou parte da opinião pública a taxar a banda de satanistas. O nome Kiss (beijo) chegou a ser interpretado como sigla para Kids In Sata's Service (Crianças a Serviço de Satan) ou Knights In Satan's Service (Cavaleiros a Serviço de Satan). Boatos ridículos informavam ainda que a banda fazia sacrificios de animais em seus shows embora isso nunca tenha sido presenciado.
AC/DC - Com o álbum Highway To Hell (Auto Estrada para o Inferno) e músicas como Hell's Bells (Sinos do Inferno) foi prontamente taxada de satanista. A situação piorou quando um conhecido assassino serial psicopata conhecido como "Night Stalker" (Rastejador Noturno) afirmou matar influenciado pelas letras da banda.
Mercyful Fate - banda Dinamarquesa de grande influência e cuja marca principal é o visual satânico do vocalista King Diamond (que mais tarde seguiu carreira solo). King Diamond afirmava dormir em um caixão e ser capaz de falar de trás para frente e imprensa acreditava. A banda usava (e usa) na decoração de seu palco restos humanos (ossos) reais, o que não constitui crime na Dinamarca.
Correntes "Satânicas" Que Influenciaram o Rock
Aleister Crowley
Aleister Crowley foi um filósofo Inglês do século 19, considerado por muitos um bruxo e satanista. Seu pensamento e pregação se resumiam basicamente no conteúdo da obra chamada Livro da Lei e na doutrina conhecida por Thelema (palavra grega que significa vontade) e que pode ser resumida em "Faz o que quiseres que tudo deve ser da lei. Todo homem é um indivíduo único e tem direito a viver como quiser".
Os princípios hedonistas de Crowley, com a pregação do aproveitamento dos prazeres terrenos, incluindo sexo e drogas, foram base para todas as doutrinas satanistas que se seguiram, embora Crowley não tenha de maneira clara em sua obra se declarado satanista, sendo mais apenas um anti-cristão, tendo tomado para si próprio a denominação de "Número 666".
Por ser uma figura controversa Aleister Crowley despertou muito interesse entre artista de rock.
É Aleister Crowley o sujeito da música Mr Crowley de Ozzy Osbourne.
O disco Seventh Son Of a Seventh Son do Iron Maiden possui várias citações a trechos da obra de Aleister Crowley.
Um dos mais famosos estudiosos da obra de Crowley foi Jimmy Page, Guitarrista do Led Zeppelin. Além de adquirir manuscritos e objetos pessoais de Crowley Page chegou a comprar a mansão do bruxo às margens do Lago Ness onde Crowley teoricamente faria seus rituais.
Aleister Crowley aparece entre os personagens da capa do disco Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band dos Beatles.
No rock do Brasil a maior personalidade ligada ao pensamento de Crowley foi Raul Seixas. A música Sociedade Alternativa, entre outras, são exemplos disto. Ao final de Sociedade Alternativa Raul Seixas grita para o público: "O Número 666 chama-se Aleister Crowley. A lei de Thelema... esta é a nossa lei e a alegria do mundo. Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei. Todo homem e toda mulher é uma estrela." Tratam-se de trechos da obra de Crowley.
H. P. Lovecraft
Howard Philips Lovecraft foi um escrito de ficção nascido em 1890 e morto em 1937. É considerado um dos pais da ficção e do terror modernos na literatura.
Lovecraft costumava fazer parecer em seus livros que os demônios e rituais citados eram reais, inclusive citando como fontes de seus conhecimentos a mitologia grega, egípcia, árabe e assíria embora tudo não passasse de ficção. Costumava citar frequentemente em seus contos demônios como Cthulhu e Shub-Nigurath além de abordar os rituais de invocação que haveriam escritos em um livro chamado Necronomicon (Livro dos Mortos).
O livro dos mortos nunca existiu, porém Lovecraft o tratava de forma tão detalhada em seus livros que chegaram a se criar seitas de estudo do Necronomicon e várias versões foram forjadas deste livro. O Necronomicon é o livro tema da série de filmes A Morte do Demônio (Uma Noite Alucinante) em que um grupo de jovens invoca sem querer forças incontroláveis. É também baseada na obra de Lovecraft a série Re-Animator entre muutos outros filmes e livros.
A influência de Lovecraft entre bandas de rock é apenas literária, mas os demônios e rituais de sua obra costumam ser confundidas com uma religião de verdade, o que leva muitos a considerarem isto satanismo.
A música Call of Cthulhu do Metallica é baseada no livro de mesmo nome de H. P. Lovecraft. Cthulhu é uma criatura (um demônio) que dormiria no fundo dos oceanos, se comunicando com os humanos através de sonhos.
Na capa do disco Live After Death do Iron Maiden é de H. P. Lovecraft a citação escrita na lápide da sepultura de Eddie. "That is not dead which can eternal lie, And with strange aeons even death may die." A tradução aproximada seria "Não está morto o que eternamente jaz inanimado, e em realidades estranhas até a morte pode ser vencida". Obviamente o trecho, que seria uma citação do Necronomicon, trata sobre a vida após a morte.
Igreja de Satan (Church Of Satan) de Antony LaVey
Antony LaVey é considerado o pai do Satanismo moderno sendo o fundador da seita satânica mais espalhada e mais influente em todo o mundo. Os preceitos de sua seita são bastante semelhantes aos preceitos de Crowley, pregando o prazer terreno e o abuso de drogas e sexo como meio de encontrar este prazer. A Church Of Satan tem ainda como característica a finalidade de ridicularizar e denegrir a imagem de Cristo e da igreja católica, mostrando o Deus cristão como causador dos males da humanidade e Satan como um ser misericordioso e compreensivo, uma alternativa ao Deus carrasco cristão.
Uma das bandas mais conhecidas da década de 70, The Eagles, é acusada por grupos evangélicos de ser particpante do movimento Church Of Satan. Os boatos surgiram quando a banda foi denunciada como satanista por um ex-produtor vingativo. O principal hit dos Eagles, Hotel California, recentemente relançado, seria uma referência à sede da Igreja de Satan na Califórnia, cujo prédio anteriormente haveria sido um cinema. Ao ouvir o disco ao contrário segundo afirmavam os evangélicos, surgiam mensagens satânicas.
Na música Simpathy For The Devil dos Rolling Stones o personagem principal é o demônio, cantando em primeira pessoa. Mick Jagger confirmou que o fundador da Igreja de Satan, Antony LaVey, foi o inspirador da canção.
Citações de Ocultismo em Letras de Rock
Conjuring (Megadeth): "I am the devil's advocate, a salesman if you will. Come join me in my infernal depths. I've got your soul! Obey!".(Sou o advogado do diabo, um vendedor se você preferir. Venha se juntar a mim nas profundezas do inferno. Sua alma é minha. Obedeça).
The Prince (Metallica): "Angel from below, I wish to sell my soul. Devil, take my soul. With diamonds you repay. I don't care for heaven so don't you loonk for me to cry. And I will burn In hell from the day I die." (Anjo das profundezas, eu quero vender minha alma. Demônio, leve minha alma, com diamantes você paga. Eu não me importo com o paraíso então não espere me ver chorar. E eu vou queimar no inferno a partir do dia em que morrer.)
Burn In Hell (Twisted Sister): "Welcome to the abandoned land. Come on in, child, take my hand. Here there is no work or, only one bill to pay. There's just five words to say as you go down, down, down. You're gonna Burn in hell!" (Bemvindo à terra do abandono. Venha, criança, segure minha mão. Aqui não há trabalho, apenas uma conta a pagar. Há apenas cinco palavras a dizer enquanto você cai. Você vai queimar no inferno.)
Homebound Train (Bon Jovi): "When I was just a boy the devil took my hand. Took me from my home, he made me a man." (Quando eu era apenas um garoto o demônio tomou minha mão, me levou de casa e me fez um homem.)
Possessed (Suicidal Tendencies): "I'm a prisoner of a demon... It stays with me wherever I go, I can't break away from its hold. This must be my punishment for selling my soul!" (Sou prisioneiro de um demônio, ele fica comigo onde quer que eu vá e não posso fugir de seu domínio. Deve ser minha punição por vender minha alma.)
Incitações ao Suicídio em Letras de Rock
O suicídio é considerado por seitas cristãs e espíritas o maior dos insultos a Deus em virtude de ser a negação da vida. Desta forma são consideradas também provas do envolvimento do rock com satanismo a frequente abordagem do tema suicídio.
Fade To Black (Metallica): "I have lost the will to live, simply nothing more to give. There is nothing more for me, need the end to set me free." (Eu perdi a razão de viver, simplesmente não tenho mais nada a dar, não existe nada mais para mim, preciso do fim para me libertar.).
Uma das músicas mais polêmicas da história do rock foi Suicide Solution, de Ozzy Osbourne. Após algumas pessoas terem acusado ser a música a responsável por algusn suicídios de jovens, o Institute for Bio-Acoustics Research foi contratado por grupos evangélicos para fazer uma avaliação da música e o relatório final apontou mensagens subliminares que não seriam audíveis conscientemente mas capazes de influenciar o inconsciente do ouvinte. A mensagem escondida estaria gravada em rotação alterada e seria "Why try, why try? Get the gun and try! Try it! Shoot! Shoot! Shoot!" seguido de uma risada. (Porque não tentar? Pegue uma arma e atire! Atire!) Além disso haveriam na música frequências sonoras especiais capazes de aumentar a capacidade de influência das mensagens subliminares. Acredite se quiser mas antes lembre-se que o "estudo" foi encomendado por um grupo evangélico.
Curiosamente a música Suicide Solution não trata sobre suicídio como pensa a quase totalidade (inclusive os fãs de Ozzy Osbourne). A música trata sobre alcoolismo e foi escrita por Ozzy quando o vocalista do AC/DC, Bon Scott, morreu de coma alcóolico. A palavra "solution" do título é "solução" no sentido de "mistura" e não no sentido de "resposta". A tradução correta seria "mistura suicida" se referindo ao álcôol. Isso pode ser facilmente confirmado ao observar a letra que está traduzida e comentada na página de Letras Traduzidas.
Crimes e Suicídios Relacionados ao Rock
Atenção: muitos dos fatos a seguir podem ser apenas resultado de exageros ou meias-verdades, mas foram publicados na imprensa e de uma forma ou de outra aconteceram.
O satanista Richard Ramirez, conhecido como Night Stalker, que aterrorizou a califórnia na década de 80, tendo matado mais de 14 pessoas, se declarou um grande fã do AC/DC.
Os pais do garoto Steve Boucher, que se suicidou com um tiro na cabeça, tentaram processar a banda AC/DC dizendo ser a música Shoot to Thrill a responsável. O garoto se suicidou sentado sobre um poster do AC/DC.
Em fevereiro de 1986 foi encontrado o corpo enforcado do garoto Phillip Morton, enquanto ao fundo o disco The Wall (com as músicas Goodbye Cruel World e Waiting for the Worms) tocava continuamente.
Em San Antonio, Texas, um garoto de 16 anos matou uma tia a punhaladas e contou à polícia que no momento do crime estava hipnotizado pela música do Pink Floyd, não podendo sequer se lembrar do ocorrido.
Em outubro de 1984 John McCollum, de 19 anos, se matou com um tiro na cabeça enquanto ouvia Suicide Solution de Ozzy Osbourne. Ele ainda estava com headphones quando o corpo foi encontrado.
Em dezembro de 1985 dois garotos de 18 anos, Raymond Belknap e James Vance, depois de ouvir Beyond the Realms of Death (Judas Priest), foram ao playground de uma igreja próxima e se suicidaram com tiros de espingarda. Os pais tentaram mover uma ação contra o Judas Priest.
Dennis Bartts, 16 anos, de Center Point, Texas, informou a um amigo que pretendia encontrar Satan, foi ao campo de futebol da escola e se enforcou na trave enquanto ouvia Highway to Hell (AC/DC) em um walkman.
Em 9 de janeiro de 1988 Thomas Sullivan, 14 anos, fã de Ozzy Osbourne, cortou a garganta da mãe e se suicidou em seguida.
Em 12 de abril de 1985, um garoto fanático por heavy metal de 14 anos matou três pessoas. O garoto (que tinha tatuado um grande 666 no peito) informou estar dominado por Eddie (mascote do Iron Maiden) quando cometeu os assassinatos.
Em 1987 foi capturado o assassino serial, ocultista e canibal Gary Heidnik. Em sua casa na Philadelfia os vizinhos escutavam heavy metal durante todo o dia.
Os Beatles e Charles Manson
Um dos casos mais famosos porém de assassinatos ligados ao rock foi a ação do maníaco americano Charles Manson e sua fascinação pela música dos Beatles.
Manson era um fanático religioso que acreditava ser Jesus Cristo encarnado e possuir uma "família", seguidores de suas pregações. Manson acreditava tb que os Beatles eram anjos mandados a Terra por Deus para avisar os homens sobre o terrível apocalipse que se aproximava, e que eles haviam feito isso através do famoso White Album, o Álbum Branco. As canções segundo Charles citavam suicídio (Yer Blues), os próprios sons do Armageddon trazidos pelos "anjos do apocalipse" (Revolution# 9), sugestões de destruição (a versão de Revolution contida no álbum chamada de Revolution# 1 era um take mais lento do famoso single da banda e na frase que fala "But when you talk about destruction... don´t you no that you can count me out..." eis que imediatamente após a última palavra (out) uma voz pronuncia de uma forma bem clara " in"), e, principalmente as guerras raciais figuradas em diversas músicas, "Piggies" seriam os "porcos brancos" e "Black Bird" possivelmente os Panteras Negras. Nota-se no fade-out de "Piggies" sons de metralhadoras, a guerra declarada. E relacionada a isso ainda, talvez a mais grave das alegações de Manson "Helter Skelter", o caos total, as guerras racias, a destruição, a revolução final.
Charles em certa época teve uma música supostamente roubada pelos "Beach Boys", sua canção "Cease to Exit" teria sido utilizada pelo grupo californiano sobre o título de "Never Learn Not to Love" para o álbum 20/20. A fúria de Manson caiu principalmente sobre Terry Melcher (filho de Doris Day) um produtor musical que havia negado um contrato de gravação de suas musicas, incluindo a utilizada pelos Beach Boys, estes fazendo grande sucesso c/ a "versão" de sua canção.
A decisão deste foi completamente irracional. Invadir com sua "família" a ex-residência do produtor. Na loucura de Manson não importava se Melcher não morasse mais lá. A nova moradora era a atriz Sharon Tate na época recém casada com o diretor Roman Polanski. A artista estava com alguns amigos em sua casa. Manson promoveu uma chacina, em uma atitude absurdamente covarde.
A ligação com os Beatles? A familia Manson utilizou o sangue de suas vítimas para escrever nas paredes da casa "Helter Skelter", "Political Piggy" e "Arrise". Helter Skelter e seu significado tomado por Manson, citados antes, seriam o seu propósito, Political Piggy seria a referência as pessoas mortas ali e Arise, uma citação a um trecho da música "Black Bird": "You´re only waiting for this moment to arise", este trecho é repetido várias vezes na música.
Um outro fato ligado a banda e o seu Álbum Branco é que um das assassinos possuia o apelido "Sexy Sadie" outra música do disco dos fabfour. McCartney, Lennon, Harrison e Starr , principalmente os 3 primeiros declararam a insanidade de Charles Manson (já óbvia) e seu completo desconhecimento dos objetivos do clã do citado (tb um fato óbvio).
(enviado por Tiago Coutinho)
Outros Fatos Relacionados a Ocultismo no Rock
Na capa de Highway To Hell (AC/DC) além de Angus estar fantasiado de demônio o vocalista Bom Scott usa um colar com um pentagrama (símbolo do satanismo). O pentagrama é também o símbolo da banda Slayer.
O símbolo que representa o guitarrista Jimmy Page (algo semelhante a Zoso) segundo alguns trata-se de um 666 estilizado.
Na revista Smash Hits Jon Bon Jovi declarou: "Eu mataria minha mãe pelo rock and roll... eu venderia minha alma."
Trey Azagthoh, guitarrista do Morbid Angel, se declara um vampiro e nos shows costuma se morder e beber seu próprio sangue. A mania teve início quando ao se cortar ele chupou o próprio sangue para evitar que escorresse e o sujasse inteiro. Terminou gostando.
Em 1992 a banda Iron Maiden foi proibida de tocar no Chile. A Igreja Católica pediu ao governo providências contra a apresentação da banda e foi atendida. Segundo a igreja a música Bring Your Daughter To The Slaughter incitava o assassinato e The Number Of The Beast incitava satanismo e assassinatos.
David Bowie em entrevista à Rollign Stone prestou o seguinte depoimento: "O rock semrpe foi a música do demônio. Eu acredito que o rock and roll seja perigoso. Sinto que estamos brincando com algo mais assustador do que nós mesmos."
Um fã da banda Slayer escreveu na Spin Magazine (Maio de 1989): "Eu odeio seu Deus Jesus Cristo. Satan é meu senhor. Eu sacrifico animais para ele. Meu deus é o Slayer. São nas letras de sua música que acredito."
Ao receber o MTV Awards de 1992 o grupo Red Hot Chili Peppers fez o seguinte agradecimento: "Antes de mais nada queremos agradecer a Satan!"
Angus Young, guitarrista da banda AC/DC em entrevista à Hit parader: "Eu sou apenas um instrumento. Quando subo ao palco alguma coisa me possui e me faz agir."
A música The Temples of Syrinx do álbum 2112 do Rush tem como tema o deus pagão Pã, constantemente associado ao demônio.
Em 1974, durante o lançamento do primeiro disco da gravadora Swan Song, comandada pelos componentes do Led Zeppelin, foi armada uma festa (em uma caverna) com temática de ocultismo que incluia mulheres nuas encenando uma missa negra e garotas vestidas de freiras fazendo strip tease.
A fascinação de Jimmy Page (guitarrista do Led Zeppelin) pelo oculto era tão grande que ele chegou a possuir a maior loja de livros de ocultismo da Europa, chamada The Equinox. Sua curiosidade sobre a obra de Crowley o levou a adquirir, além de milhares de objetos pessoais, livros e manuscrito, a mansão de Crowley, chamada Boleskine, localizada às margens do Lago Ness. Segundo contam as lendas Crowley praticava rituais satanicos na casa. Depois que Jimmy Page comprou a mansão um caseiro se suicidou inexplicavelmente e um outro ficou louco.
Na edição original em vinil do terceiro álbum do Led Zeppelin constava a inscrição "Do what thou wilt" (Faze o que quiseres) que é um dos ensinamentos de Crowley.
O nome da banda Cheap Trick segundo eles próprios foi sugerido em uma mesa de ouija (uma maneira de se comunicar com espíritos semelhante ao "jogo do copo" conhecido no Brasil). Vincent Furnier se tornou Alice Cooper da mesma maneira.
Jim Morrison, líder e vocalista da banda The Doors dizia ter sido possuído por espíritos quando assistiu a um acidente automobilistico que matou diversos índios. Segundo ele um ou dois espíritos de shamans (feiticeiros índios) o possuiram desde então, guiando seu estilo de vida e sua maneira de compor. Em 1970 Morrison se casou com uma feiticeira em um ritual pagão que envolveu invocações de demônios e beber sangue.
Em 1992, a banda de hard rock americana Slaughter foi acusada pela família de duas jovens de ter induzido um jovem de 17 anos (namorado de uma) a mata-las. As duas amigas foram mortas a facadas enquanto, segundo testemunhas, a música Fly To The Angels (que Mark Slaughter havia composto para uma ex-namorada que havia morrido de câncer) tocava repetidamente. Foi depois apurado de que o jovem nao era fã do Slaughter propriamente, mas sim da música em si. A turnê do álbum The Wild Life teve de ser interrompida por algum tempo para que eles respodessem ao processo, no qual foram completamente inocentados. (Agradecimentos a Christiano Gonçalves).
A Condessa Elisabeth Bathory era filha de nobres Húngaros que sacrificava virgens e tomava banho com sangue para manter sua beleza e juventude eternamente. Tornou-se parte do folclore europeu. Mereceu citações da banda Venom (Countess Bathory), do Cradle Of Filth (The Cruelty And The Beast) e inspirou o nome da banda Bathory.
Esta é uma matéria antiga do site Whiplash.Net. Quer saber por que destacamos matérias antigas?
103 pessoas gostaram desta matéria. 17 pessoas não gostaram.



QUAL A FUNÇÃO DO FALSO EGO ATUANDO EM NÓS



Rm 1:25     “ mudaram a verdade de Deus em mentiras,e honraram e serviram a criatura em lugar do criador, é bendito eternamente.amém”  O objetivo do ego menor  é criar em nossa extensão de dias, personagens que ativem de forma ilusória com funções diferente, exatamente para descentralizar quem somos de fato. Esses papeis criado vem com única finalidade confundir quem realmente somos  levando- nos a se caracterizar de pessoas que achamos...

BUSCA DA SATISFAÇÃO PESSOAL


O ANJO SOMBRIO E SEU INTELECTO ARDILOSO “Sabe, porém isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigo de Deus.”  2 Timóteo 3:1-4 Seu plano ardiloso seria os pensamentos e sentimentos exercessem...

SENHOR JESUS TUDO É BEM AVENTURADO


  Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo Senhor, escudo que te socorre, espada que te dá alteza. Assim, os teus inimigos te serão sujeitos e tu pisarás os seus altos.”  Dt. 33:29 “Bem – aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois a disciplina do Todo- Poderosos.”    Jó 5:17 “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.”   Sl....

POR JESUS ( A PORTA)



Encontramos o verdadeiro uso para as funções das nossas virtudes, nosso despertar no corpo, religando-nos novamente a indubitavelmente sentimentos novos de alto níveis de felicidade, alegria o verdadeiro prazer. Por Jesus compreendemos e não mais colocamos a prova quem somos, o adversário que abalava nossos convicções em relação as nossas qualidades, não mais existe no sentido de assolar nossas convicções em Cristo e em nos mesmos. Os conflitos entre a natureza superior e inferior criar...

Viagem pelo imaginário do interior feminino


Mary Del Priore 
Universidade de São Paulo



RESUMO 
Esse artigo não se pretende uma pesquisa completa ou uma parcela acabada da história do corpo feminino. O fato de que deste tema emanam tantos problemas, indica a extensão do campo a ser explorado, bem como aquele das diversas abordagens utilizadas nas pesquisas em andamento. Não pretendo entrar nas controvérsias epistemológicas sobre a questão, mas, simplesmente, rascunhar uma história dos corpos femininos a partir das representações predominantemente médicas do século XVIII. 

Palavras-chave: Corpo; Mulher; Sexualidade.


ABSTRACT
This article do not pretend to form a complete survey or to definy a compact portion of the history of women's body. The fact that so many problems are addressed only indicates the extends of the field to be explored and marks the several approches on the ongoing investigations. I shall not enter directly into these controversies, but I simply want to sketch the history of whow female bodies where represented in predominantly medical literature during the XVIIIth century. 

Keywords: Body; Female; Sexuality.



"O corpo da mulher não é se não metáfora das gerações femininas que o precederam" 

Antoinette Gordwosky



O CORPO E SUA LINGUAGEM

Já se disse que na sociedade ocidental existem temas e assuntos sobre os quais só falamos sussurrando. Em voz baixa... é de bom tom usarem-se metáforas quando se trata de moléstias, mênstruos, deflorações e deformações. Por outro lado, quando os historiadores ou antropólogos lançam-se sobre as sociedades ditas arcaicas, nada os detém; a descrição da vida sexual do outro, considerado selvagem ou bárbaro, acompanha-se, normalmente, dos detalhes mais crus. Suas anomalias, desvios e enfermidades são minuciosamente anatomizados1.
Várias razões terão levado os historiadores a interessar-se pela história do corpo: a excessiva discrição em relação ao tema, os debates da atualidade em torno de questões como a saúde perfeita, as terapias gênicas e ablações que prometem purificar geneticamente todos os seres defeituosos, transportando, por meio da ciência, o homem de volta ao paraíso. Mas existe também uma profunda curiosidade pelo interior do corpo como retrato do universo mais fechado e misterioso que existe. Por isso mesmo, ele é submetido insistentemente às imagens, às medidas, e a toda matéria verbal destinada a representá-lo; é precisamente sobre o conteúdo e as significações dos corpos, e do corpo feminino, em particular, que venho trabalhando há algum tempo2.
O objetivo, aqui, é tratar o desejo de "dizer" o corpo da mulher e mais especificamente o de nomear o "sul" deste corpo: pequena história do baixo-ventre, de sua cartografia, de seus lugares de prazer e de dor, das imagens sobre a sexualidade feminina a partir de diferentes compartimentos do saber histórico. Os elementos para a história do imaginário sobre o corpo e das formas de sua descrição encontram-se tanto na filosofia cristã quanto no saber médico, que começa a se construir a partir do século XVII em Portugal. Nesta época e em toda a Europa ocidental, a medicina e a Igreja uniam forças na luta para a constituição de um Estado centralizado, baseado na privatização do eu e na apropriação privada dos meios de produção. Nesse Estado, tanto o médico, que cuidava dos corpos, quanto o padre, que cuidava das almas, tinham acesso ao corpo feminino. Apoiados na Escolástica, consideravam-no uma abominável roupagem da alma, um perigoso território, um lugar de tentação, votado para a putrefação, destinado aos vermes e excrementos. Para além destas imagens evocativas do pensamento cristão sobre o corpo - imagens que habitam, aliás, suas constantes representações na Idade Moderna ibérica3 - a noção cristã sobre a sexualidade e o uso dos prazeres limitava-se à retomada de algumas categorias familiares saídas da Antigüidade. Compreendia-se o "exterior" (foris), como invólucro capaz de manifestar ou trair o interior (intus), a alma. Mais além, a teologia insistia em reinterpretar a distinção corpo/alma por meio da dicotomia corpo mortal/alma imortal. Havia uma dolorosa distinção entre esses dois pólos: um, positivo, centrado na encarnação do único corpo que importava, aquele do Cristo, capaz de fazer pensar o físico como meio e lugar da salvação; e um pólo negativo, que definia o corpo como matéria impura, vetor do pecado original, revelando-se, na sua contigüidade com a carne, marcado pela luxúria e pelo pecado4.
Numa obra clássica5, o historiador Jean Delumeau demonstrou que entre os séculos XII e XVIII a Igreja identificava, nas mulheres, uma das formas do mal sobre a terra. Tanto a literatura sacra, quanto a profana, descreviam-na como um superlativo de podridão. Quer na filosofia, quer na moral ou na ética do período, era considerada um receptáculo de pecados. Os mistérios da fisiologia feminina, ligados aos ciclos da lua, ao mesmo tempo que seduzia os homens, repugnava-os. O fluxo menstrual, os odores, o líquido amniótico, as expulsões do parto e as secreções de sua parceira repeliam-os. O corpo feminino era considerado como fundamentalmente impuro. Pólo negativo, portanto, na dicotomia com que era interpretado.
Mal magnífico, prazer funesto, venenosa e traiçoeira a mulher era acusada pelo outro sexo de ter introduzido sobre a terra o pecado, a infelicidade e a morte. Pandora grega ou Eva judaica ela cometera o pecado original ao abrir a caixa que continha todos os males ou ao comer do fruto proibido. O homem procurava uma responsável pelo sofrimento, o fracasso, o desaparecimento do paraíso terrestre e encontrou a mulher. Como não desconfiar de um ser cujo maior perigo consistia num sorriso? A caverna sexual tornava-se, assim, uma fossa viscosa do inferno, explica Delumeau6.
Na Idade Moderna, a religião projetava sobre a sexualidade feminina uma luz, revelando que essa mesma era o lugar do conflito, começado nas origens, entre as forças do Maligno e a potência de Deus. O corpo feminino induzia ao sono da alma, empurrando, inelutavelmente, ao pecado e à deleitação de tudo que, como ele, seria decrepitude nauseabunda. A mulher encontrava-se, nesta forma de pensar, imersa numa feminilidade cuja significação aparecia numa perspectiva escatólogica. Culpada pelo despojamento de bens imposto quando da expulsão do paraíso só lhe restava dedicar-se a pagar seus pecados pela contemplação de Deus, pela continência, pela domesticação de seu desejo. Daí que a busca da definição da natureza feminina teria para médicos e físicos, entre os séculos XVII e XVIII, uma função normativa.
Em 1559, um outro Colombo - não o Cristóvão - mas Renaldus, descobria outra América, ou melhor, outro continente: o "amor Veneris dulcedo appeletur", o clitóris feminino. Como Adão, ele reclamou o direito de nomear que tivera o privilégio de ver pela primeira vez e que era, segundo sua descrição, "a fonte do prazer feminino". A descoberta, digerida com discrição nos meios científicos, não mudava a percepção que existia, há milênios, sobre a menoridade física da mulher. O clitóris não passava de um pênis miniaturizado, capaz, tão somente, de uma curta ejaculação. Sua existência apenas endossava a tese, comum entre médicos e estudiosos da física natural, de que as mulheres tinham as mesmas partes genitais que os homens só que - segundo Nemésius, bispo de Emésia no século IV - "elas as possuíam no interior do corpo e não, no exterior"7. Galeno que, no século II de nossa era, esforçara-se por elaborar a mais poderosa doutrina de identidade dos órgãos de reprodução, empenhou-se com afinco em demonstrar que a mulher não passava, no fundo, de um homem a quem a falta de calor vital - e portanto, de perfeição - conservara os órgãos escondidos. Nesta linhagem de idéias, a vagina era considerada um pênis interior, o útero, uma bolsa escrotal, os ovários, testículos e assim por diante. Ademais, Galeno invocava as dissecações realizadas por Herófilo, anatomista de Alexandria, provando que uma mulher possuía testículos e canais seminais iguais aos do homem, um de cada lado do útero, só que os do macho ficavam expostos e os da fêmea eram protegidos. A linguagem, sublinha Thomas Laqueur8, consagrava essa ambígua visão da diferença sexual. Alberto o Grande, por exemplo, em seu De secretis mulierum, obra que teve enorme sucesso e múltiplas traduções, revelava que tanto o útero quanto o saco escrotal eram associados a mesma palavra de origem: "bolsa" "bursa" "bource", "purse". Só que, como diz Laqueur, no caso do órgão masculino, a palavra tinha também um significado social e econômico, pois remetia à bolsa, lugar de congraçamento de comerciantes e banqueiros. Lugar, por consegüinte, de trocas e ação. No caso das mulheres, o útero, descrito como uma bolsa, era denominado "madre ou matriz" e associado ao lugar de produção: "as montanhas são matrizes de ouro"! Logo, espaço de espera, imobilidade e gestação.
Os médicos portugueses, alheios, em sua grande maioria, às descobertas científicas que começavam a se delinear no restante da Europa a partir do século XVII9, limitavam-se a repetir os chamados "antigos" (Aristóteles, Plínio, Galeano, Alberto, o Grande) dizendo que a matriz ou madre "é o lugar em cujo fundo se acham aqueles corpos vesiculares (...) que os antigos chamavam testículos e os modernos chamam ovários"10. Herdeiros da tradição medieval, tais doutores insistiam em sublinhar a função reprodutiva da madre, excluindo o que não tivesse finalidade procriativa. A função do "amor Veneris dulce apellatur" não era sequer invocada. Não lhes interessava, nem remotamente, se a mulher tinha prazer ou não. Entre eles, a entranha, mal descrita e mal estudada - comparada às pêras, ventosas e testículos - acabava por reduzir a mulher à sua bestialidade. Repetiam igualmente, de "antigos" como Platão, que tal como um animal vivo e irrequieto, - "animal errabundo", segundo Bernardo Pereira11 - a madre era capaz de deslocar-se no interior do corpo da mulher, subindo até a sua garganta e causando-lhe asfixia. Quando não se movimentava, emitia vapores ou "fumos" capazes de infectar "o cérebro, o coração, o fígado, o cepto transverso" por meio de "humores viciosos que, detidos no útero" apodreciam, adquirindo má qualidade12. Acreditava-se, ainda, que a madre se alimentava de sangue e "pneuma", e que o espírito vital, emitido pelo homem e encarregado da fecundação, chegava-lhe através de uma grande artéria que desceria do coração ao longo da coluna vertebral. No processo de fecundação, a fêmea era um elemento passivo. Comparada por alguns médicos às galinhas, tinham por exclusiva função portar os "ovos". Mas por que seriam as mulheres incapazes de procriar, cabendo-lhes apenas a tarefa de carregar e fazer amadurecer o fruto, numa analogia com a natureza? Invocando Aristóteles, Francisco da Fonseca Henriques dizia que elas não tinham "matéria seminal prolífica" e tão somente concorriam para a geração com o "sangue mênstruo" que alimentava a criança. "A mulher, dizia, é um animal imperfeito e passivo, sem princípio e vigor eficiente, razão porque os bárbaros lhe chamam animal acessório"13. Entendia-se que para cumprir sua função de portadora de "ovos", a madre tinha dois orifícios: um exterior, chamado de collum matricis, no qual o coito se realizava, outro, interior, os matricis. Este, segundo Hipócrates, fechava-se na sétima hora seguida à concepção (tão hermeticamente quanto uma "bolsa") e nem a ponta de uma agulha poderia penetrá-lo. Segundo esta mesma tradição, a madre era fria e seca (prova de sua inferioridade face ao membro masculino, quente e úmido), provida de pilosidades internas (as masculinas, externas) e dotada de sete compartimentos distintos. Três à direita onde se engendravam meninos, três à esquerda onde cresciam meninas, e um no centro, reservado aos hermafroditas. Uma das características da madre era a sua capacidade de amar apaixonadamente alguma coisa e de aproximar-se do membro masculino por um movimento precipitado, para dele extrair de que buscar o seu prazer. Porém, o aspecto mais tocante de sua personalidade era, segundo um médico, "o desejo inacreditável de conceber e procriar"14.
É o sexo feminino dotado de uma entranha por extremo ativa, a qual, com singular energia, reage sobre todo o corpo, e principalmente sobre o peito e as entranhas abdominais... Falamos do útero, o qual, desde a época da puberdade até que a menstruação cessa, se pode ter pelo árbitro de tudo quanto em geral se passa pela sua organização. Pela sua influência vem a ternura e o carinho materno, escrevia em 1823 o brasileiro, Francisco de Melo Franco15.

O CORPO E SEUS HIERÓGLIFOS


Este juízo sobre a madre alimentou, durante quase trezentos anos, todo o debate sobre a função normativa do corpo feminino e a importância da maternidade como forma de resgate de pecados. Ditados antigos, que reforçavam o valor moral e físico da maternidade, tais como "Não a madre como a que pare", ajudavam a dicotomizar as mulheres. Erigido como altar da procriação, o útero em funcionamento apontava a mulher normalizada, identificada com os esforços da Igreja em redimir os males cometidos por Eva. Aquele que não trabalhasse, assinalava a desregrada. A mulher incapaz de conceber era tida por doente, "maninha", e se tornava atacada de paixões ou de melancolia. A melancolia, por sua vez, era diagnosticada por tratadistas de época como uma alucinação sem febre, acompanhada de medo e tristeza. Galeno teria associado tais sentimentos à cor negra, resultante dos vapores que exalavam do sangue menstrual, causador de horríveis e espantosas alucinações. "Todas essas paixões têm tão grande poder no corpo humano" ameaçava em 1731 Francisco Henriques16, "que não só causam gravíssimos males, mas também mortes". O médico setecentista Bernardo Pereira17, explicava, por sua vez, que:
Por isto chamam a melancolia banho do Demônio, e por muitas razões. Pela rebeldia, renitência e erradicação de tal humor que por frio e seco é inobediente aos remédios e constitui doenças crônicas e dioturnas (...) se encobre aqui a astúcia e maldade do Demônio e seus sequazes, e se ocultam as qualidades maléficas com os sinais e sintomas que se equivocam com os originados de causa natural, e nestes termos o doente, o médico e assistentes ficam duvidosos.
Enfermidade feminina por excelência, a melancolia diabolizava o corpo da mulher infecunda associando-a à infelicidade e a morte referidas por Delumeau. Seu útero, tornado território do conflito entre luz e sombras, Deus e o Diabo, recusava, por meio de sintomas como medo e convulsões satânicas, a maternidade, negando-se, portanto, a cumprir a tarefa teológica reservada à mulher. Tidos por essencialmente uterinos, os males femininos exudavam da zona genital, numa tradição já registrada nos livros do corpo hipocrático, mantendo-se presentes até em textos redigidos no século XIX: "Ela sofre do órgão do amor e da maternidade", afirmaria Michelet, "e todas as suas doenças são direta ou indiretamente ressonâncias da matriz". O critério do útero regulador da saúde mental da mulher irradiava-se em toda a Europa moderna - e portanto, na metrópole lusa - difundindo uma mentalidade na qual a mulher era física e mentalmente inferior ao homem e escrava de sua fisiologia. Essa natureza própria e ordenada pela genitália reverberava os problemas da alma feminina, fazendo da mulher um monstro ou uma criança incontrolável. Vítima da melancolia, seu corpo abria-se para males maiores como a histeria, o furor da madre, a ninfomania:
Porque como procedem do útero e este como animal errabundo, segundo lhe chama Galeno, tem simpatia e comunicação com todas as partes do corpo, não há alguma que seja livre dos seus insultos, especialmente se o sangue mensal não depura todos os meses ou se infecciona com humores cachochéricos ou putredinosos de que abunda o útero; ou se suprime a evacuação ou se a retarda, donde nascem contínuos acidentes e muito mais notáveis", diagnosticava Bernardo Pereira18.
Nesses casos, as enfermas revelavam sintomas tão inusitados que faziam parecer "a muitos professores doutos que estão oprimidas de algum espírito, porque nelas se experimentam vozes e sibilos horrendos e infernais". Na Idade Moderna ocorre uma violenta transição na explicação galênica, que associava sintomas melancólicos à abstinência sexual, passando-se, então, a crer numa nova interpretação teológica, responsável por uma mudança radical nas mentalidades19. A espiritualidade de santo Agostinho, que via na sexualidade a forma por excelência do pecado, impedia que se pensasse qualquer ligação de causa e efeito entre a castidade e tal signo patológico. O caráter espetacular da sintomatologia da melancolia só podia resultar, segundo a Igreja, da interferência de forças ocultas. Padres e médicos jogavam, juntos, água no moinho de uma doutrina teológica que atingia em cheio a mulher, cobrindo-a de suspeição e dispondo-se a ver nela o objeto de manobras do Demônio. O médico João Curvo Semedo20 afirmava, em 1707, que seria enfadonho listar todas as doenças que as mulheres padeceriam por causa da madre, sendo ela "a autora de infinitas calamidades". Semedo a denominava então "madre assanhada ou furiosa". Outro doutor reconhecia doenças femininas por uma dor "proveniente de um desejo insaciável de Vênus que elas indicam levando as mãos às ditas partes, tendo perdido toda a vergonha". Os olhos ficavam fundos e modificavam-se as cores do rosto; sobrevinha uma vontade de "falar e ouvir coisas venéreas", e grandes suspiros que resultavam de "grandes imaginações"21. A aparência que tomavam as infectadas pela melancolia colaborava também para sua identificação e sua posterior exclusão:
Perdem a princípio a vontade de comer e dormir, nada gastam de suas ocupações ordinárias; fiar, coser, bordar tudo é para elas um tormento insofrível; buscam o desafogo na janela para verem e serem vistas dos passageiros; mas nesta estação a melancolia se pinta com sombras suas a sua face e depois degenera num furor amoroso de que elas não se podem deter e as faz entregar-se a toda a sorte de indecências, tanto em seus atos, como em suas palavras22.
A natureza feminina bastava para explicar tantos desacertos: tanto o apetite sexual quanto a imperfeição das substâncias de seu corpo eram consideradas degenerativas.
A mesma fisiologia moral via com temor o papel do sangue secreto, o sangue catamenial. Dos excretos femininos era esse, certamente, o mais temido. Sua eficácia como poderoso veneno confirmava-se nos textos de medicina:
O sangue mensal é o que mais das vezes costumam usar as mulheres depravadas para o benefício amatório e conciliar amor e afeição; sucede que tão longe está de assim ser, antes gera gravíssimos acidentes, como de veneno, e faz as pessoas doidas e furiosas como tem demonstrado a experiência23.
A crença na eficácia mortal deste sangue era tão forte que se encontra presente nos processos crime do século XVIII: em São Paulo, em 1780, Rita Antonia de Oliveira ameaçava tirar a vida de seu marido por artes diabólicas e chegou a confessar que lhe dera a beber "o seu próprio sangue mênstruo para o enlouquecer, e da mesma sorte vidro moído a fim de o matar". Incorporada à mentalidade popular que lhe tinha o maior temor, a crença no poder do sangue catamenial como instrumento de dominação sexual e morte, revelava o mal-estar de uma sociedade paternalista frente àquela que se tornava uma feiticeira com capacidade para adoecer os homens usando seu próprio corpo. As funções mágicas dos excretos femininos pareciam tão verossímeis que mesmo os médicos incorporavam a visão tradicional sobre o sangue mensal. Eis porque recomendavam o "uso de vomitórios e laxativos que encaminhem para fora este veneno", seguido de "emulsões de barba-de-bode" e um xarope feito com "bem-me-queres e açúcar", remédios cujo poder analógico é evidente e que tinham o objetivo de "adoçar" ou funcionar como antídotos contra a peçonha.
A medicina incorporava-se à mentalidade européia tradicional, dominada pela misoginia e totalmente impregnada de desconfiança pelo corpo feminino. O útero gerava, mais que desconfiança, medo e apreensão pela possibilidade de vinganças mágicas. Esse temor fazia Alberto Magno afirmar que a mulher menstruada carregava consigo um veneno capaz de matar uma criança no berço, e apesar de ter emitido tal opinião no século XIII, ela ainda repercutia no século XVIII. A ojeriza à mulher, embutida na cultura cristã, ajudava a consolidar essas crenças cujo conteúdo se mantinha, a despeito de algumas mudanças formais24.
João Curvo Semedo era um exemplo da longevidade dessa visão sobre o corpo feminino, porquanto advertia "às mulheres depravadas" que ao contrário de "granjear amor e afeição aos homens", a ingestão do dito sangue os fazia loucos ou os matava:
Porque é tal a maldade do dito sangue que até nos casos insensíveis faz efeitos e danos lamentáveis. Se chega à qualquer árvore, planta, erva ou flor, murcha-a e seca; se chega ao leite, corrompe-o, se chega no vinho, perde-o, se chega no ferro, embota-o e enche de ferrugem; até a vista das mulheres que estão no atual fluxo mensal é tão venenosa que embota a gala e resplendor dos espelhos das mulheres que neste tempo se enfeitam a eles; é tão notório este dano, que era proibido no Levítico que os homens tivessem ajuntamento com suas mulheres em dias de menstruação25.
As afirmativas de homens como Semedo vêm de encontro aos fenômenos estudados por Edward Shorter e Jacques Gélis para as mulheres do Antigo Regime, comprovando que estas certamente aceitavam a idéia de que suas regras fossem de fato venenosas. A purificação de judias ortodoxas e as proposições de santa Hildegarda sobre a menstruação como um castigo do pecado original, subscreviam o discurso masculino sobre sua imundície e riscos. A medicina, por sua vez, endossava o poder "enlouquecedor" do dito sangue ao diagnosticar em suas vítimas, "endemoninhadas", por ingestão, "visagens de fantasmas ou figuras de cavalos, elefantes, perus ou serpentes (...) fúrias, taciturnidades, medos e lágrimas".
Não apenas os diagnósticos, mas os processos de recuperação das vítimas sugeriam a aura de fantasia que envolvia o sangue menstrual. Semedo sugeria trazer aos pulsos e pescoços "alambres brancos"26. Pereira, por sua vez, preferia poções à base de "pós de secundinas", placentas que envolviam recém-nascidos, misturadas a "águas de nastúrcios aquáticos", os prosaicos agriões. Sugeria ainda um remédio feito de "sementes e flores de sabugueiro ou de figueira do inferno bem cozidas e transformadas em óleo". Lembrava, no entanto, que para a eficácia da receita era preciso realizá-la à distância de qualquer mulher menstruada, caso contrário não se faria "óleo"27.
O tempo do sangue secreto era, pois, um tempo perigoso, um tempo de morte simbólica no qual a mulher deveria afastar-se de tudo que era produzido ou do que se reproduzia. Suas propriedades malfeitoras possuíam o poder degenerativo de arruinar, deteriorar e também de contaminar a sua portadora por meio de seus muitos eflúvios. Como bem demonstra Semedo, o olhar, o contato e o hálito feminino, passam, nessa lógica, a ter poder mortal. Pelo excesso de odores, a mulher se isolava. Seus cheiros e secreções rubras funcionavam como uma espécie de cortina invisível entre ela e a vida quotidiana, contendo-a de estragar o leite, o vinho, a colheita ou os metais. O corpo feminino parecia, assim, o lugar de uma dupla propriedade. Ele mostrava-se ameaçador, mas ameaçava também a si próprio ao se tornar vulnerável a elementos do universo exterior.
O corpo da mulher era ainda capaz de gerar coisas monstruosas, sublinhando na mentalidade do período uma imagem deformada da mulher ora como feiticeira, ora como possuidora de um útero mágico. Inspirado no livro de Ambroise Paré, De monstrorum naturae, causis et diferentiis28, um certo doutor Nunes29, pernambucano setecentista, registrou em suas anotações o nascimento de "um monstro que nasceu com cornos e dentes à cola", bem como de um outro que "nascera como um lagarto que repentinamente fugiu" e ainda uma mulher que dera à luz a um elefante e uma escrava que parira uma serpente". Eis porque não parecia impossível a Bernardo Pereira narrar o caso de uma viúva capaz de lançar pela urina "semente de funcho" ou "glóbulos de cabelo que, queimados, lançavam o mesmo odor que costumam exalar os verdadeiros". O douto médico que observara o fenômeno afirmava que este era resultado de uma astúcia do Demônio"30. O mesmo Diabo fazia-se presente nos corpos das mulheres da Colônia, enchendo seus úberes de mistério e bruxaria. Não é que graças a ele um feiticeiro negro chamado José fizera uma "cura mágica" numa escrava de nome Maria, e que esta "arrojou uma como bolsa ou saquinho por forma da pele de uma bexiga, na qual depois de rota se viam vivos três bichos: um do feitio de uma azorra, o outro do feitio de um jacarezinho e o outro do feitio de um lagarto com cabelos, e cada um dos ditos bichos era de diversa cor". Ao desfazer o encantamento que se havia instalado na "madre" da escrava Maria, o negro José revelava a mentalidade daqueles que acreditavam na imensidão dos úteros femininos como um espaço capaz de abrigar seres e coisas fantásticas.
De enfeitiçada, "a madre" passava novamente a embruxadora quando emprestava seus líquidos, pêlos e sucos para finalidades mágicas, ou quando seu contato bastava para inocular encantamentos. Aos finais do século XVI, uma certa Guiomar de Oliveira confessava ao Visitador do Santo Ofício da Inquisição, Heitor Furtado de Mendonça, que teria aprendido "dos diabos", que "semente de homem dada a beber fazia querer grande bem, sendo semente do próprio homem do qual se pretendia afeição depois te terem ajuntamento carnal e cair do vaso da mulher". Era o contato com a madre, com o mais íntimo do corpo da mulher que conferia poderes mágicos ao sêmen. Num outro caso, e um pouco mais tarde, Josefa, uma negra mineira, "lavava as partes pudendas com a água que misturava à comida de seu marido e de seus senhores" para "sujeitar-lhes as vontades"31. Aparentemente nada podia contra os sucos femininos. Sendo a mulher naturalmente um "agente de Satã", como afirmamos no início deste texto, toda a sua sexualidade podia prestar-se à feitiçaria, bem como seu corpo, ungido pelo mal, podia se tornar o território de intenções malignas. Cada pequena parte seria representativa desse conjunto diabólico, noturno e obscuro. Além dos sucos femininos, também os pêlos compunham esta ambígua farmacopéia que curava as astúcias do Demônio.
A negra Tomásia, em 1736 na Bahia, foi tratada com defumadouros feitos com "cabelos das partes venéreas" de duas outras escravas, e matéria seminal resultante da cópula de ambas com um padre exorcista. Este recomendara que
(...) limpassem a matéria seminal das ditas cópulas com paninho e passassem na barriga da enferma, e que todas lavassem em todas aquelas vezes as partes venéreas com água e a guardassem numa panela para ir banhando a enferma.
O tratamento pouco ortodoxo do frei Luiz de Nazaré, useiro e vezeiro em abusar de mulheres durante exorcismos e curas mágicas, acabou levando Tomásia à morte, mas confirmava a importância dos excretos femininos nos rituais mágicos.

"LAST BUT NOT LEAST"


Na Idade Moderna, a sexualidade estava profundamente inscrita nos corpos. Mas o corpo da mulher era visto como um corpo decaído. Seu sexo, sua condição genital, sexual e biológica, definia sua condição no mundo: ser menor e infecto. Biológica e moralmente. Deste ponto de vista, a sexualidade feminina não era apenas uma qualidade inerente à carne, celebrada ou reprimida de acordo com a sociedade na qual estava inscrita. Ela não seria, tão pouco, como desejava mais tarde Freud, uma pulsão biológica que a civilização canalizaria numa ou noutra direção. Ela foi, segundo Michel Foucault, uma maneira de modelar o eu "na experiência da carne". Experiência que se constituiu a partir e em torno de determinadas formas de comportamento. Tais formas, por sua vez, existiram nas suas relações com sistemas de saber historicamente específicos, cujas regras foram ou não naturais e com aquilo que Foucault chamou de "um modo ou uma relação entre o indivíduo e ele mesmo permitindo-o reconhecer-se como um objeto sexual em meio a outros"32. De maneira global, tais sistemas de saber determinaram o que se podia pensar sobre o próprio corpo.
O que se pensava sobre o corpo da mulher, até os finais do século XVIII, faziam-na ver-se como o microcosmo mais insignificante no interior de uma ordem mais ampla, na qual cada parcela da natureza - as plantas, os animais, os homens e os anjos - encontravam seu lugar em extratos superpostos. Porque a maior parte dos médicos consideravam sua constituição natural o paradigma para a sua alma, eles acabavam por encerrá-la numa rede de determinações físicas e morais: por ser menor, mais fraca, possuir menos músculos, ter carnes mais moles, ser "fria e úmida", (por oposição ao homem, quente e seco) ela "era" mais volúvel, pusilânime, tímida, desafiadora, esperta, injusta, avara, ingrata, supersticiosa, infiel, impaciente e falastrona. Era por comparação com as qualidades masculinas que se podiam proclamar viciosas as das mulheres. Mas era, sobretudo, em relação ao tipo ideal da espécie que os seus defeitos apareciam como uma irremediável doença. A mulher, e por extensão seu corpo, podia ser definida como um ser cujas paixões detestáveis condenavam a uma condição de inferioridade tanto no plano social, quanto moral. A mulher tinha que ser salva dela mesma e só o conseguia sob condição de viver sob normas imperativas. Foi preciso esperar o fim das teorias aristotélicas no mundo luso-brasileiro (o que só ocorreu no século XIX) para que a feminilidade das mulheres passasse a ser reavaliada a partir de seu próprio corpo. Essa inflexão, contudo, não desfaz o imaginário que sempre existiu sobre ele, mas o incentiva a adquirir novas dimensões. É como se as viagens pelo interior feminino não tivessem fim.

NOTAS
1 Ver a respeito da história do corpo meu "Dossiê: a história do corpo". In Anais do Museu Paulista - História e Cultura Material, Nova Série, São Paulo, USP, vol. 03, jan./dez. 1995, pp. 09-24.
2 Ver o meu Ao sul do corpo, Condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil Colônia, Rio de Janeiro/Brasília, José Olympio/EDUNB, 1993; DEL PRIORE, Mary (org.). "Magia e Medicina: o corpo feminino no Brasil colonial". In História das Mulheres no Brasil. São Paulo, Contexto, 1997, pp.78-114 e " A história do corpo e a Nova História: uma autópsia". In Revista USP. São Paulo, nº 23, set./nov., 1994, pp.48-55 (Dossiê Nova História).
3 Basta ver a prosa de Vieira ou Manoel Bernardes sobre a questão. Remeto leitor para o meu artigo "Amor e Desamor: a história do corpo feminino em São Paulo no século XVIII". In Impressões - Feminismo e Cultura. Rio de Janeiro, Rede de Artes e Literatura Feminista, nº 0, dez., 1987, pp.40-64.
4 Empresto, nesse parágrafo, informações de M. D. Garnier e seus GODDARD, Jean-Christophe e LABRUNE, Monique (Orgs.). "Éléments pour une pensée chrétienne du corps". In Le corps. Paris, Vrin, 1992, p.72.         [ Links ]
5 La peur en Occident, Paris, Fayard, 1978,         [ Links ]especialmente o capítulo 10 "Les agents de Satan: La Femme". Ver também do mesmo autor Le péché et la peur - la culpabilisation en occident XIIIe-XVIIIe siècles, Paris, Fayard, 1983.
6 DELUMEAU, Jean. op.cit., p. 403.
7 EMÉSIA, Nemésius de. On the nature of man. Ed. por William Tefler, Filadélfia, Westminster Press, 1955, p. 369.         [ Links ]
8 LAQUEUR, Thomas. La fabrique du sexe - essai sur le corps et le genre en Occident. Paris, Gallimard, 1992, p.17.         [ Links ]Empresto desse autor algumas das informações aqui utilizadas.
9 Ver sobre o atraso da medicina portuguesa a primeira parte de DEL PRIORE, Mary. op.cit., 1993.
10 TORRES, Santos de. Prontuário fármaco e cirúrgico dedicado à Nossa Senhora do Cabo. Lisboa, Oficina de Manoel Soares, 1756.         [ Links ]
11 PEREIRA, Bernardo. Anacefaleosis médico, teológica, mágica, jurídica, moral e política. Coimbra, Francisco de Oliveira, s/d.         [ Links ]
12 FERREIRA, Antonio. Luz verdadeira e recopilado exame de toda a cirurgia. Lisboa, José Felipe, 1757, p. 298.         [ Links ]
13 HENRIQUES, Francisco da Fonseca. Âncora medicinal para conservar a vida com saúde. Lisboa, Miguel Rodrigues, 1731, p. 18.         [ Links ]
14 Refiro-me a Jean Libault, médico seiscentista, citado por Pierre Darmon em seu Le mythe de la procréation à l'âge baroque. Paris, Seuil, 1981, pp. 16-17.
15 Elementos de higiene ou Ditames teóricos e práticos para conservar a saúde e conservar à vida. Lisboa, Academia Real de Ciências, 1823, p. 12.
16 HENRIQUES, Francisco da Fonseca. Âncora Medicinal para conservar a vida com saúde. Lisboa, Miguel Rodrigues, 1731, p. 504.         [ Links ]
17 Anacefaleose médico-teológica, mágica, jurídica, moral e política. Coimbra. Francisco de Oliveira, s/d, p. 09.         [ Links ]
18 PEREIRA, Bernardo. op.cit., p. 09.
19 Apud WEITH, Ilse. "Histoire de l' hystérie". In JACQMART, Danielle e TOMASSET, Claude. Sexualité et savoir médical au Moyen Âge. Paris, PUF, 1985, p. 11.         [ Links ]
20 Observações médico-doutrinais de cem casos gravíssimos. Lisboa, Antonio Pedroso Galrão, 1707, p. 27.         [ Links ]
21 FERRAND, M. Traité de la maladie d' amour ou de la mélancolie érotique avec remèdes. Paris, 1623.         [ Links ]
22 MELO, Francisco Manoel de. Medicina teológica ou súplica humilde a todos os senhores confessores edoutores sobre o modo de proceder com seus penitentes na emenda dos pecados, principalmente da lascívia, cólera e bebedice. BNL, mss. 6118, p. 53.         [ Links ]
23 PEREIRA, Bernardo. op.cit., p. 27.
24 Empresto, nos próximos parágrafos, informações já publicadas em DEL PRIORE, Mary. op.cit., 1993, pp. 232-235.
25 Observações.... op.cit., p. 568.
26 Idem, p. 268.
27 PEREIRA, Bernardo. op.cit., pp. 259-263.
28 PARÉ, Ambroise. Monstruos y Prodígios. Madrid, Syruela, 1987.         [ Links ]
29As observações do Dr. Nunes foram objeto de um meu estudo intitulado "A maternidade da mulher escrava". InEstudos CEDHAL. Cedhal/USP, nº 04, 1989.
30 PEREIRA, Bernardo. op.cit., p. 36.
31 Apud FIGUEIREDO, Luciano. "Segredos de Mariana; pesquisando a Inquisição mineira". In Acervo, vol. 02, nº 02, 1987, p .51.

32 FOUCAULT, Michel. Les mots et les choses. Paris, Gallimard, 1966, pp. 32-33.        [ Links ]